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Exposição reúne relíquias de Gaspar Vianna no Hospital de Clínicas

Por Redação - Agência PA (SECOM)
20/01/2017 00h00

Em Belém, peças históricas e de uso pessoal, que recontam a trajetória e testemunham o legado do maior cientista paraense de todos os tempos – e um dos mais significativos nomes da medicina mundial –, podem ser vistas de perto até sábado (21). É a mostra “Gaspar Vianna: o paraense do Século XX”, que o Hospital de Clínicas Gaspar Vianna expõe ao público durante a Jornada Científica do HC, aberta nesta sexta-feira (20), na Pedreira.

Um dos maiores nomes da saúde pública nacional, o paraense Gaspar Vianna, morto no início do século XX, é reconhecido mundialmente como um dos benfeitores da humanidade pelas suas contribuições à medicina. A maior delas foi a descoberta da cura para a leishmaniose, a segunda maior doença parasitária que mais mata no mundo.

A mostra levada ao HC reúne peças mantidas pelo médico Habib Fraiha Neto, que também integra o quadro da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Pará (UFPA) e hoje é o grande curador do acervo deixado por Gaspar Vianna. As relíquias já foram parte de um museu que era mantido pela UFPA, mas o espaço foi fechado nos anos 1990. Elas integraram um acervo que antes foi instalado no antigo núcleo regional de patologias, que deu origem ao atual Núcleo de Medicina Tropical da universidade.

O acervo hoje é pleiteado pelo Museu Histórico do Estado do Pará (MEP). O deputado estadual João Chamon, por sua vez, tem projeto para transformar as relíquias de Gaspar Vianna em patrimônio cultural material do Pará. Um levantamento completo das peças históricas vem sendo feito para isso. “É um acervo numeroso, mas a quantidade é o que menos importa”, avalia Habib Fraiha.

São documentos, fotografias e todas as publicações, incluindo originais, feitas por Gaspar Vianna ainda em vida. Entre as peças há grandes raridades, como a tese de livre docência do médico, feita na época de sua descoberta de maior repercussão: uma preciosidade que expõe o legado do paraense.

Raridades – Pode ser vista na mostra aberta pelo Hospital de Clínicas a escrivaninha de trabalho usada por Gaspar Vianna. A peça, que veio diretamente do Rio de Janeiro, tem uma história peculiar: ela pertenceu também ao irmão do médico, o historiador Arthur Vianna – que dá nome à maior biblioteca pública do Pará –, e depois passou ao caçula Gaspar Vianna, do qual Arthur era tutor.

Na exposição também podem-se ver de perto a carteira de identidade de Gaspar Vianna, expedida no início do século passado, uma foto da formatura do paraense e também a última foto do médico, além de uma bengala que ele ganhou no aniversário, em 1910, dois anos antes de ser laureado pela descoberta da cura para as leishmanioses.

“Gaspar Vianna é considerado um dos maiores benfeitores da humanidade. Seu legado, com a descoberta da cura para as leishmanioses, salvou milhões de vidas em todo o globo”, pondera Habib.

“Ele também tem várias outras descobertas, como a cura para o granuloma venéreo, além de ser o precursor da anatomia patológica da doença de chagas, a doença então recém-descoberta por Carlos Chagas. Isso foi fundamental para elucidar as alterações decorrentes da infecção do Trypanosoma cruzi em homens e animais”, ressalta. O médico curador do acervo de Vianna é também autor do livro “Gaspar Vianna: gênio paraense da medicina”, que está sendo editado pelo Instituto Evandro Chagas.

Trajetória – O médico paraense Gaspar Vianna nasceu em Belém, na rua Benjamin Constant, no Reduto (onde hoje funciona a escola Dom Bosco), no fim do século XIX. Foi no segundo grau do Colégio Estadual Paes de Carvalho que ele começou a se interessar pela medicina. Em 1903, se mudou para o Rio de Janeiro para ingressar nos estudos médicos. Lá, montou um laboratório de análises clínicas com o irmão, Arthur Vianna, e frequentava diariamente a Santa Casa de Misericórdia.

Graças ao brilhantismo, foi trabalhar ao lado de Oswaldo Cruz, o ilustre médico incumbido pelo então presidente da República, Rodrigues Alves, para acabar com a peste bubônica e dirigir campanhas de combate à febre amarela e à varíola. Na época, se viviam grandes avanços na medicina: em 1907, a febre amarela havia sido erradicada do Rio de Janeiro e a Doença de Chagas foi descoberta. Primeiro colocado em concurso para o Hospital Nacional para Alienados, em 1908, Gaspar Vianna foi convidado para ser o chefe do serviço de histopatologia do Instituto Oswaldo Cruz - um ano antes de completar o curso superior.

Em 1911, acabou descobrindo uma nova espécie de protozoário causador da leishmaniose: a Leishmania braziliensis. Não satisfeito, em 1912, Vianna também comprovou que o tártaro emético ou antimonial era eficaz para conter a enfermidade. Isso abriu caminho também para o uso da substância contra o granuloma venéreo e a esquistossomose. Foi um marco da quimioterapia anti-infecciosa.

A descoberta de Gaspar Vianna acabou publicada em alemão e teve repercussão mundial, devido à grande eficácia para o tratamento da leishmaniose cutâneo-mucosa e também nos casos mais graves de leishmaniose visceral.

Aos 29 anos, em 1914, Gaspar Vianna acabou contaminado após realizar uma incisão no tórax de um cadáver vitimado por uma tuberculose: durante a necrópsia, um jato contaminado por bacilos atingiu sua boca, infectando-o gravemente. Vianna faleceu dois meses depois, no dia 14 de junho daquele ano.

“Os analistas de sua obra afirmam que, se não tivesse ocorrido essa morte tão precoce, Gaspar Vianna, certamente, teria sido um nome de imensa projeção mundial. Em apenas cinco anos de exercício da medicina ele fez o que fez: uma contribuição de magnitude similar, para a saúde pública, ao legado de Louis Pasteur e também à invenção da penicilina, por Alexander Fleming”, avalia o médico Habib Fraiha.

Em tempo: além de inventar o processo de pasteurização - que elimina microorganismos de alimentos como o leite -, o químico e biólogo francês Louis Pasteur contribuiu muito para os avanços na indústria e também para a medicina preventiva. Desenvolveu a vacina anti-rábica e foi também o descobridor das propriedades bactericidas do cogumelo Penicillium notation, que resultaria na invenção da penicilina, por Alexander Fleming, em 1929.

Serviço: A exposição “Gaspar Vianna: o paraense do Século XX”, com objetos de uso pessoal do médico e pesquisador Gaspar Vianna, foi montada para a Jornada Científica de 2017 do Hospital de Clínicas (Travessa Alferes Costa, s/n, entre Marquês Herval e Duque de Caxias, na Pedreira), aberta nesta sexta-feira (20). Peças do acervo pessoal de Vianna estão expostas, entre elas a escrivaninha de trabalho do descobridor da cura das leishmanioses. A mostra pode ser vista só até sábado (21), no bloco administrativo do hospital.