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Pacientes do Hospital de Campanha do Hangar contam experiências e histórias especiais

São recordações da vida em família, relatos de afetos pelas pessoas que amam, memórias que os profissionais de Saúde esperam que continuem além do hospital

Por Mozart Lira (SESPA)
27/05/2021 13h27

Dentro do Hospital de Campanha do Hangar, em Belém, o maior do Estado do Pará no tratamento exclusivo da Covid-19, acontecem diversas histórias que envolvem medo, dúvidas e esperança. Nos corredores da unidade, o som dos equipamentos, o vai e vem de profissionais e a preocupação para cuidar de cada paciente ganham destaque. Neste movimento, salvar vidas é o objetivo principal.

Dentro do Hangar, mais de 900 profissionais compõem o quadro funcional e estão na linha de frente de enfrentamento da pandemia. Por outro lado, em busca de auxílio e cura, 143 pacientes, entre enfermarias e Unidades de Terapia Intensiva (UTIs), estão internados e mais de seis mil já foram atendidos.

Antônio Carlos Barreto, 53, é agente de vigilância em Barcarena, interior do Pará, e está internado há seis dias. As diversas tatuagens pelo corpo sinalizam muitas experiências vividas. Casado com a tatuadora, Katiusia Gutierrez Guimarães, ele lembra que a mulher fez nascer nele a paixão pelos desenhos na pele. “Eu sou apaixonado pela minha esposa. Com ela, eu aprendi a amar a arte da tatuagem e tenho várias”, disse.

Entre as 29 espalhadas pelo corpo, Antônio Carlos lista três que mais marcaram porque têm significados: uma âncora, em homenagem ao pai que atuava como pescador, e os brasões dos times do coração: Flamengo e Paysandu. “Eu me emociono demais com essas histórias porque são histórias boas. A âncora eu fiz em homenagem ao meu pai que era pescador. Com ele, eu aprendi muitas coisas que levo até hoje e sou grato”, conta.

Para marcar as boas lembranças do período de internação, ele promete que a trigésima tatuagem será feita assim que retornar para casa. Os traços, com o número e letras que identificam o leito, demonstram que ele levará a experiência, positiva, para a vida toda. “Eu estou sendo muito bem tratado aqui. Esse período não foi nada fácil, mas consigo tirar muito aprendizado. Fiz esse desenho que diz que vou vencer e vou tatuar. Eu tenho muita fé que sairei daqui bem e retornarei para a minha casa. Quero ter somente boas lembranças daqui e estou acreditando que será assim”.

Outro paciente que está ansioso para retornar para casa é Cleber Pena Cardoso, contador, de 38 anos. "Vivia para o trabalho", é assim que ele lembra da vida antes da Covid-19 chegar. “O medo é real. A partir da doença, tudo fica incerto mesmo. A minha rotina sempre foi de muito trabalho. Trabalhava, estudava e ficava poucos dias em casa, não tinha tempo. Hoje eu consigo perceber que não deve ser só isso”, afirma.

Após a cura da doença, mudar este cenário é um dos principais objetivos. “Pretendo ter mais tempo com a minha família porque a vida é realmente muito rápida. Temos que saber conciliar os tempos e não deixar as coisas passarem ou se perderem”, diz.

Um terço na mão confirma que a fé é a principal arma de Jeferson Antônio da Silva, de 65 anos, contra o coronavírus. O idoso, que atua como técnico de estudos e pesquisas, mora em um sítio, localizado em Ourém do Pará, a cerca de 190 km de Belém, e veio se tratar no Hospital de Campanha do Hangar. Ele conta que tira forças nas orações para superar a doença. “Lá fora eu sou muito engajado com as causas da igreja. Faço reflexão do evangelho e estudo isso com pessoas que precisam de auxílio ou passam por alguma dificuldade na vida”, conta.

As práticas religiosas dão suporte para que Jeferson Antônio passe por esse momento. Em silêncio, ele diz que fazer o terço da misericórdia tem o ajudado nessa luta. “Eu percebi que não estava baixando a minha glicemia, estava muito alta. Me acalmei e fiz um momento intenso de terço, pedindo a Deus que agisse em mim para que eu continue servindo às pessoas e questionei, pedi uma resposta. Hoje estou bem melhor. A fé é o que ainda transforma as coisas”, diz ele.

Casado há 39 anos com Marivalda Saavedra Paiva e pai de Jeferson, Richard e Natasha Saavedra, ele está ansioso para retornar a quem chama de único amor. “Há 39 anos eu digo que a amo porque é verdade. Antes da minha esposa acordar, a mesa de café está posta para ela. Meus filhos estão todos criados e entregues para viver a vida deles. Isso me conforta e eu tenho muito orgulho”, conclui.

O Hospital de Campanha do Hangar já atendeu mais de seis mil pacientes. A unidade é referência no tratamento contra o coronavírus no Brasil. “Atuamos para proporcionar uma experiência positiva aos nossos pacientes, mesmo diante de uma doença grave. Seguimos protocolos assistenciais junto com ações de humanização e isso tem feito diferenças que vemos diariamente. São diferentes histórias de vida, que se cruzam em um momento como esse. Lutamos todos os dias para que essas histórias continuem além do hospital", comenta Bárbara Freire, diretora técnica da Unidade. 

Para o secretário de Saúde do Pará, Romulo Rodovalho, o legado do hospital de campanha é pontuado por histórias especiais, que em comum valorizaram o amor à vida. “Pelo trabalho desenvolvido na Unidade e pelo número de pacientes recuperados, é gratificante ao Estado saber que o esforço empreendido pelos profissionais de saúde tem rendido momentos de muita esperança e alívio aos pacientes e seus familiares. Por esse motivo, já possui uma história marcante e à parte na saúde pública do Pará”, destacou.

*Texto: Alberto Dergan (Ascom/Hospital de Campanha do Hangar).