Mulheres se destacam à frente de equipes esportivas estudantis
Conduzir equipes a vitórias não é uma tarefa fácil e mais difícil ainda é vencer o machismo no esporte. No Brasil, especificamente no Pará, mulheres em posições de destaque estão provando, resultado a resultado, que a derrota do preconceito é apenas uma questão de tempo. Ana Glória Nascimento, coordenadora do Núcleo de Esporte e Lazer (NEL); Gisane Rodrigues, treinadora de bocha adaptada e Andréa Azevedo, professora de Educação Física, são exemplos de mulheres que direcionam equipes inteiras ao êxito, com disciplina, trabalho e paciência.
As três têm suas histórias interligadas pelos Jogos Estudantis do Pará (Jeps), promovidos pela Secretaria de Estado de Educação do Pará (Seduc), por meio do NEL. Ana Glória Nascimento coordena a realização do evento em todo o Estado, enquanto Gisane Rodrigues e Andréa Azevedo conduzem suas equipes, dentro e fora de quadra, em busca de resultados positivos.
Com 30 anos de serviço público, a professora Ana Glória Nascimento coordena o NEL com a intenção de proporcionar aos atletas estudantis o que ela e outros atletas não tiveram quando representavam o Pará em competições escolares. “Fui atleta de ginástica artística durante a década de 1970 e treinadora durante a de 1980. Acompanhei a evolução de perto, plantamos um trabalho de base e agora estamos colhendo os resultados. Claro, sempre há o que melhorar, inclusive nas relações interpessoais entre homens e mulheres, e, aos poucos, estamos fazendo com que reconheçam o mérito do nosso espaço, que é de direito e merecido”, comenta.
Nascimento se refere ao estereótipo criado em torno da mulher no âmbito das competições esportivas. A coordenadora conta que já passou por momentos delicados quando sua competência foi posta à prova simplesmente por ser mulher. “Às vezes, acham que não somos capazes por parecermos frágeis. É justamente nesses momentos que temos que provar a que viemos e focar nos resultados, sem esquecer os processos, afinal de contas lidamos com pessoas, e não apenas rankings. Quando os resultados vêm, provamos que somos merecedoras da confiança que temos e do trabalho que nos propomos fazer”, diz.
Assim como Ana Glória, a treinadora de bocha adaptada, Gisane Rodrigues, abraça o desafio de fazer com que as mulheres sejam reconhecidas por sua competência. A treinadora conta que em 2013, Belém foi convidada a sediar a regional Norte de bocha adaptada, torneio que classifica as melhores equipes para o campeonato brasileiro. Entre todas as categorias da competição regional, o Pará foi o Estado com maior número de vitórias pelo número de atletas, feito repetido também em 2014, no Acre, que deu o direito a disputa da competição nacional, na qual o Estado ficou em terceiro lugar.
“Por conta desses resultados, nossos atletas se tornaram francos concorrentes a integrar a seleção brasileira. Um deles ganhou uma bolsa atleta devido o desempenho que tem apresentado. Estamos pleiteando a sede da competição regional, o que seria interessante para nossa equipe, que jogaria ao lado da torcida”, conta Rodrigues.
Na quadra da Escola Estadual Magalhães Barata, no bairro do Telégrafo, está Andréa Azevedo, professora de Educação Física há 25 anos e que desde 2014 treina o time masculino de vôlei da escola, duas vezes por semana. Experiente com a formação de equipes de handebol por toda a carreira, treinar uma equipe masculina de vôlei é um desafio.
A professora conta que o respeito dos atletas é uma prova do espaço que as mulheres estão conquistando ao demonstrar que não há diferença entre as capacidades de homens e mulheres na busca pelo êxito. “Há muita resistência sobre o trabalho da mulher. Eu e minhas amigas treinadoras já sentimos essa discriminação várias vezes, mas nunca nos abatemos, apesar de lamentar. Nos esforçamos para ultrapassar isso e focar no que somos capazes”, conta, enquanto supervisiona o treino da equipe que tem o objetivo de ficar entre as três melhores do Jeps na sua categoria.
Um dos atletas comandados por Andréa é Alexandre da Silva. O atleta lembra que já foi treinado por homens e aponta a diferença entre os estilos. “Homens e mulheres treinam de forma igual quanto à tática, mas o relacionamento é diferente. As mulheres têm a sensibilidade apurada, percebem detalhes entre as relações e agem sobre isso. Isso faz a diferença no psicológico da equipe”, explica.