Mulheres celebram conquista de novos espaços na Polícia Militar do Pará
A Polícia Militar feminina do Pará completou 35 anos em fevereiro de 2017, com uma importante história de orgulho e conquistas. O caminho foi difícil no início, mas hoje a presença de mulheres no comando de alguns postos na instituição mostra que a luta não foi em vão.
Ex-professora da rede municipal, Máurea Leite, de 57 anos, integrou com mais 56 mulheres a primeira turma feminina da PM, em 1982. Ela lembra que, na época, as militares obedeciam a uma cartilha impressa que trazia regras rígidas de estética. Símbolo de feminilidade, os cabelos compridos eram proibidos. As pioneiras na PM precisaram usar os as madeixas com corte curto, estilo “militar”, durante oito anos. As unhas também precisavam ser curtas e pintadas com esmalte claro. “Entramos pós-ditadura, antes da Constituição de 1988, por isso tivemos que quebrar tantos tabus”, comenta a hoje capitã na reserva da PM.
Após 25 anos de serviços, ao decidir entrar para a reserva, virou mestra em segurança pública e hoje se dedica a ensinar aos futuros policiais, no Instituto de Ensino e Segurança do Estado do Pará (IESP). Máurea é professora de duas disciplinas: Ética e Esfera Pública e Ética e Cidadania. Um de seus compromissos na educação militar é abordar as questões de gênero. Seu sonho é acabar com as cotas para mulheres nos concursos públicos (10% das vagas são destinadas a elas).
“No cotidiano, víamos a falta de parceria em meio a muitos policiais, que tinham medo de perder o lugar para nós, mulheres que acabavam de entrar. Sempre tivemos que trabalhar mais para fazer aparecer o nosso trabalho. Além da jornada dupla de toda mulher, ainda tínhamos que trabalhar em dobro na PM, no início. A maioria dos homens, ainda hoje, acha que somos melhores no serviço burocrático. Quem disse isso? Nosso lugar é onde a gente quer estar. Se queremos trabalhar na cavalaria, vamos para lá. Se queremos ir para a Companhia de Operações Especiais (COE), vamos pra lá”, destacou Máurea Leite.
Apesar das muitas dificuldades do início, Máurea destaca os avanços na quebra de paradigmas nos últimos anos. A luta das mulheres pela valorização no mercado de trabalho militar ganhou um grande trunfo. “Hoje já mudou muito, temos um comandante geral moderno (coronel Roberto Campos) que tem uma visão diferente, plural e sabe estimular o melhor de cada profissional, independente do gênero. A gente conseguiu se empoderar em um meio fundamentalmente masculino, que tinha um preconceito disfarçado, mas real. Mostramos que viemos para trabalhar e ficar”, se orgulha a capitã na reserva.
Para marcar a data, em fevereiro as militares foram homenageadas com uma programação especial, e também participaram de uma trilha ecológica. Veja aqui.
Comando - Uma das duas únicas coroneis hoje na Polícia Militar do Pará, Ivone Mendes, 44 anos, tem 25 anos de serviços na PM. Poderia estar providenciando sua aposentadoria, mas pela nova lei de formação de oficiais, pode servir mais cinco anos. Decidiu então realizar um sonho: assumir um posto de comando dentro da instituição. Coronel Ivone foi a primeira mulher a assumir a direção do Fundo de Saúde da Polícia Militar (Funsau).
Para isso, estudou bastante e sempre se dispôs a quebrar barreiras que serviram como aprendizado. Escolheu ser oficial logística no Comando de Missões Especiais (CME), uma tropa eminentemente masculina, e esteve durante dois anos dormindo em acampamentos e integrando a tropa em operações arriscadas, como as reintegrações de posse. “Vejo meu posto como uma questão de perfil. Existem determinadas mulheres que têm características que se enquadram melhor na administração, assim como homens também. Não vejo como discriminação e sim como valorização do seu perfil de comando e organização. Virei gestora porque sempre quis isso e estudei para esse fim”, destacou a coronel Ivone.
Ela, que fez o curso de oficiais junto com a hoje amiga pessoal Máurea, admite que o preconceito ainda existe, mas como entrou dez anos depois da primeira turma feminina na PM, já não encontrou tanta resistência. E se considera uma privilegiada por ter tido um instrutor sensível, que em sua primeira aula de tiro vendo que a então menina, com menos de 50 quilos, não conseguia acionar o gatilho, a orientou da melhor forma. Ivone levou para casa um dispositivo manual e, depois de uma semana, voltou com as mãos firmes e decididas a superar qualquer obstáculo e crescer. “Estamos assumindo funções de comando e isso é uma prova explícita de quebra de paradigmas. Aqui eu fui a primeira mulher a assumir esse posto. Temos uma tenente coronel na diretoria de apoio logístico (tenente coronel Raquel França), temos também comandante de batalhões, policial na Rotam e me sinto orgulhosa de fazer parte do rol dessas mulheres pioneiras”, afirma.