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Ophir Loyola integra estudo internacional sobre a Doença de Parkinson nas populações latinas

Pesquisa será realizada em dez países. Objetivo é identificar novos alvos terapêuticos para o tratamento, e melhorar o diagnóstico e a previsão de risco

Por Leila Cruz (HOL)
19/10/2020 09h37

O Hospital Ophir Loyola, do Governo do Pará, foi selecionado para participar de um estudo internacional que busca identificar novos genes associados à Doença de Parkinson. A pesquisa, financiada pela Parkinson's Foundation e a Michael J Fox Foundation, ambas instituições norte-americanas, é realizada em dez países latino-americanos e busca identificar novos alvos terapêuticos para o tratamento e melhorar o diagnóstico e a previsão de risco em populações latinas.

A doença é a segunda enfermidade neurodegenerativa mais comum da humanidade e causa lentificação de movimentos, tremores, rigidez muscular e problemas de equilíbrio. É caracterizada pela degeneração progressiva dos neurônios produtores da dopamina, um neurotransmissor que, dentre outras funções, controla os movimentos corporais.  Em geral, acomete pessoas acima de 50 anos de idade, porém também pode afetar pessoas entre 30 e 40 anos, normalmente, nos casos de causa genética. 

A maioria dos estudos já realizados sobre a Doença de Parkinson envolve populações asiáticas ou europeias, com poucas informações sobre os latinos. Isso significa que milhões de indivíduos deixaram de se beneficiar dos avanços da medicina personalizada.

Após essa análise, o especialista em medicina genômica do Hospital Cleveland Clinic, nos EUA, Ignácio Mata, criou o Consórcio Latino-Americano de Pesquisa sobre a Genética da Doença de Parkinson (Large-PD) em parceria com cerca de 40 instituições do Brasil, Argentina, Colômbia, Costa Rica, Chile, Equador, Honduras, México, Peru e Índias Ocidentais (Ilhas do Caribe). Somente no Brasil, mais de dez instituições irão participar do recrutamento. Na região Norte do país, participarão Belém e Manaus.

Na capital paraense, o Hospital Ophir Loyola, certificado como Hospital de Ensino e Pesquisa, é o representante do Pará por desenvolver um Ambulatório de Distúrbios do Movimento. Uma média de 200 pessoas serão recrutadas, mediante a assinatura de termo de aceite. Em todo o Brasil, um total de 2 mil pessoas devem participar do estudo.

O professor e médico neurologista do HOL, Bruno Lopes, é coordenador da pesquisa local e destaca que a participação do hospital simboliza a presença paraense em um estudo de escala global. Segundo ele, mesmo com todas as dificuldades para fazer pesquisa em uma região periférica como a Amazônia, os cientistas têm reconhecimento e condições de participar em pé de igualdade com qualquer instituição.

“O outro ponto importante é a entrada inédita de dados de pessoas que vivem nesta região do mundo. Até o momento, os resultados que temos sobre a Doença de Parkinson são referentes a centros no Sudeste e Sul do país, que possuem uma configuração genética distinta da nossa. Já é sabido que a população da região Norte tem as maiores proporções de ancestralidade ameríndia do Brasil, e ainda não entendemos como essa singularidade afeta doenças crônico-degenerativas” - Bruno Lopes, professor e médico neurologista, e coordenador da pesquisa local.

Metodologia – O estudo irá utilizar análise de associação genômica ampla ou GWAS (genome-wide association study). Em termos mais simples, consiste na investigação de milhões de variantes genéticas em cada paciente e assim mapear grande parte do genoma do indivíduo. Posteriormente, tenta-se checar se alguma característica da Doença de Parkinson está associada a uma ou várias variações analisadas, o que permite entender melhor os mecanismos da doença. E também possibilita identificar mutações raras que causam as formas genéticas do Parkinson.

Bruno Lopes explica que a pesquisa irá recrutar enfermos com doença, mas também indivíduos sem Parkinson, sejam familiares de pacientes ou não. Os pacientes que seguem no Ophir Loyola com o referido diagnóstico serão convidados a participar, assim como acompanhantes saudáveis.

“A coleta de dados clínicos e de sangue periférico para extração do DNA também será feita no HOL. O processamento das amostras de sangue ocorrerá no Laboratório de Biologia Molecular do hospital ou no Laboratório de Genética Humana e Médica da UFPA, instituição parceira do estudo”, afirma Bruno Lopes.

Benefícios – Entre os resultados esperados, almeja-se a descoberta de pacientes e famílias portadoras de mutações já conhecidas causadoras de Doença de Parkinson, a fim de que possam se beneficiar de aconselhamento genético, aponta Lopes. Assim como “a identificação de novas mutações causadoras de doença ainda não descritas, pois a população amazônica nunca foi explorada sistematicamente com essa finalidade”. 

Outro desfecho provável é que pessoas com mutações em alguns genes, como LRRK2 e GBA, poderão se beneficiar de tratamentos adicionais, não disponíveis para quem não tem mutações nestes genes. Logo, mapear a existência destes pacientes na população será útil para o oferecimento de novas medicações. 

“O Large-PD pretende ser o primeiro estudo mundial de grande porte com dados clínicos e genéticos de pessoas com Doença de Parkinson de vários países da América Latina. Deste modo, teremos informações mais precisas sobre a nossa população. É importante comentar que quase tudo o que sabemos sobre genética da doença não se aplica à população latino-americana, geralmente excluída dos grandes estudos genéticos por ter alto grau de miscigenação. Esse é o principal diferencial de nosso estudo”, evidencia o neurologista.