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Hospitais do Estado reforçam a essência da maternidade através dos partos naturais

Por Redação - Agência PA (SECOM)
14/05/2017 00h00

Como a maioria dos bebês saudáveis, a pequena Aimê Eloá anunciou sua vinda ao mundo, há duas semanas, com um forte choro e os abraços abertos de uma vitoriosa. Afinal, diferente da maioria dos bebês brasileiros que nasce na rede privada de saúde, a mãe de Aimê escolheu ter a filha em um parto natural.

Com o rosto colado no da filha recém nascida, Paula Batista, 24 anos, selava a cumplicidade que deu certo. Depois de 8 horas de trabalho de parto, ela vivia a emoção da maternidade em sua plenitude. “Quando senti as contrações fortes, a enfermeira fez eu me sentir no colo da minha mãe. Me deixaram à vontade para gritar e quando pensei em desistir por causa das dores, elas não deixaram. Só tenho a agradecer por toda a dedicação e carinho desse corpo médico maravilhoso. É uma experiência que vou levar para o resto da vida”, disse emocionada a nova mamãe.

Durante o laborioso parto, Paula ouviu os batimentos cardíacos de seu bebê, recebeu massagens nas costas, compressas de água morna e muitos abraços. Tudo isso em um ambiente climatizado e ouvindo músicas suaves. Na sala de parto vizinha, Érika Vieira, 21 anos, esperava pelo primeiro filho ao lado do seu marido e de uma enfermeira que, acariciando suas mãos, lhe ajudava a fazer movimentos que facilitariam a passagem do bebê. “Isso deveria ser oferecido em todos os hospitais. Apesar da dor, eu estou bem tranquila. Sempre quis ter parto natural, para me sentir mais próxima do meu filho e do pai dele e ainda ter uma recuperação mais rápida”, disse a futura mãe.

Referência - É essa a realidade das mães da rede pública de saúde que decidem ter filhos no Hospital de Clínicas Gaspar Viana, uma das referências no Estado em parto humanizado. O incentivo a esse tipo de parto foi uma das medidas do Ministério da Saúde para melhorar a qualidade do atendimento às gestantes e humanizar os partos no país. A portaria regulamenta a Lei 11.108, de abril de 2005. Desde então, as gestantes atendidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) ganharam o direito de escolher, entre amigos e parentes, alguém de sua confiança para estar na sala de parto e também no pós-parto.

O Centro Obstétrico do Hospital das Clínicas foi inaugurado em 2011, depois de um cuidadoso trabalho de estruturação clínica. A portaria de 2005, do Ministério da Saúde, chamava a atenção para a necessidade de diminuir os índices de mortalidade infantil, parte do Pacto do Milênio para reduzir a mortalidade materna e infantil. No início da implantação, em 2009, o HC recebeu uma equipe do Ministério da Saúde, que mostrou as normas de estrutura para o parto humanizado. Passaram por quase um ano de adaptação da infraestrutura e foi formada uma comissão multidisciplinar, que visitou referências em parto humanizado pelo Brasil, como a maternidade Sofia Feldman, em Belo Horizonte. Na volta, fizeram treinamento para os demais integrantes em um curso de uma semana.

Foram investidos R$ 141 mil na construção do centro obstétrico do HC, recursos oriundos da Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) e dos Fundos Estadual e Nacional de Saúde. A equipe que atua nas quatro salas de parto humanizado é formada por 14 obstetras, 12 neonatologistas, uma psicóloga, dois assistentes sociais, anestesistas, sete enfermeiras e 15 técnicos em enfermagem, que também realizam outras atividades no Centro Obstétrico.

Uma questão de escolha - Assim que a mãe entra no hospital, não é só mais um número atendido pelo corpo médico. É uma mulher que tem o direito de escolher entre o parto normal e a cesárea e em ambos os casos, recebe todos os cuidados dispensados ao parto humanizado. Mas para os profissionais que atuam nos centros obstétricos dos hospitais públicos do Pará, as diferenças vão muito além dos procedimentos. “Na hora de um desfecho de parto normal humanizado, a energia é diferente, o ambiente muda completamente. É totalmente diferente dos partos normais de antigamente onde a gente só ouvia gritos. As pacientes olham pra mim chorando de dor, às vezes pedem pelo amor de Deus para desistir, mas a gente as encoraja para ir até o fim. Aqui, todo mundo, desde o faxineiro é treinado para atender às dúvidas e acolher as mães em trabalho de parto”, disse Layses Braga, médica da Clínica Obstétrica e chefe de comissão de boas práticas do parto humanizado, durante sua implantação, em 2011.

Nas mulheres que têm pouca tolerância à dor, são utilizados métodos como acupuntura, anestesia peridural, mas antes de receber qualquer prática medicamentosa, são testadas todas as formais naturais.

O parto humanizado é oferecido à qualquer mulher que deseje ter seu filho em um parto natural, mesmo àquelas que possuem plano de saúde particular. Para esclarecer todas as dúvidas sobre o trabalho de parto humanizado e orientar as futuras mães sobre os cuidados e procedimentos na espera pelo dia especial, uma equipe fica à disposição das grávidas e da família no Hospital das Clínicas toda terça, quarta e quinta, à partir das 14 horas. Não é preciso agendamento. “Aqui é SUS, todo mundo é tratado igual, basta bater na porta e terá seu parto natural, com todos os cuidados necessários”, destaca a médica.

Foi através dessas visitas que a empresária Paula Oliveira, 25 anos, se encantou com a estrutura oferecida pelo Hospital das Clínicas. Ela sempre quis ter seu primeiro filho de parto natural e fez o acompanhamento pré-natal com um médico particular. Mas assim que conheceu o HC, desistiu de pagar hospital e decidiu que alí seria o lugar no qual viria ao mundo a pequena Guilhermina, hoje com 4 meses. Durante as 17 horas de parto, a mãe contou com o apoio médico e psicológico irrestrito. “Minha mãe ficou muito nervosa e não conseguiu me acompanhar durante o parto. Ela ficou em uma sala ao lado, com todo o apoio de profissionais, enquanto eu tinha a minha filha, cercada de cuidados e carinho. Foi uma experiência maravilhosa que, hoje, repasso no incentivo a outras mães fazerem o mesmo”, disse Paula.

Segundo dados do Ministério da Saúde, o Brasil é um dos países que mais realizam cesarianas. Na rede privada, 95% dos nascimentos acontecem por cirurgia, enquanto na rede pública o índice cai para menos de metade, cerca de 45%. Ver mulheres optando pelos hospitais do Estado na hora do parto, faz a Sespa ter certeza que está no caminho certo. “A mudança do modelo de assistência ao parto é fundamental para evolução da humanidade como um todo. Pesquisas nacionais recentes mostram que uma em quatro mulheres sofrem violência obstétrica. Essa mudança vem contaminando positivamente as mulheres que vêm evitando a cesariana sem critérios, por outros motivos aleatórios, como comodidade ou condição do próprio sistema”, disse Ana Guzzo, coordenadora estadual de saúde da criança, da Sespa.

As vantagens - Os médicos ressaltam que o trabalho de parto é fundamental para o desenvolvimento dos pulmões das crianças. As contrações liberam substâncias que ajudam na maturação do pulmão do bebê e estimulam os movimentos de sucção, melhorando a qualidade da amamentação.

Como na maioria das vezes a data da cesariana é fixada com base apenas nas conveniências do médico e da mãe, independentemente do início do trabalho de parto, muitas crianças nascem sem os pulmões plenamente desenvolvidos. Os benefícios também são estendidos à mãe. “Desde o tempo de recuperação, até os riscos que a paciente corre no parto natural, são bem menores do que no parto com cirurgia. O parto é um processo fisiológico, quanto menos intervenção acontecer, maior será a recuperação da paciente”, destaca Diego Lobão, médico plantonista do setor obstétrico da Fundação Santa Casa de Misericórdia do Pará, que também é referência em parto humanizado no Estado.

Investimentos - O Pará possui atualmente 11 hospitais “Amigos da Criança”, com uma proposta internacional de promoção ao aleitamento materno e incentivo ao parto humanizado. Com recursos oriundos do Ministério da Saúde investidos na Rede Cegonha, no atendimento às mães e seus recém-nascidos, a Sespa, através da coordenação estadual de saúde da criança, vem investindo também na qualificação de seus profissionais. Só em 2016, foram quase 55 mil reais na capacitação de profissionais da saúde de crianças e mulheres.

Neste ano, existe a previsão de o projeto “Mulher Paraense”, com um investimento de 100 mil reais, atuar na qualificação dos servidores em diversas regiões de saúde do Estado. A ação tem o objetivo de melhorar o pré-natal, reduzir a mortalidade materna e auxiliar no planejamento reprodutivo.

Com investimentos na estrutura e qualificação e ainda o engajamento de profissionais, que vibram a cada parto natural, a saúde pública no Pará caminha a passos largos. Este e os próximos Dia das Mães serão comemorados com a certeza de fazer da maternidade um gesto de amor à humanidade.