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Uepa forma na região oeste mais 58 professores indígenas

Por Redação - Agência PA (SECOM)
09/06/2017 00h00

Na região do Baixo Tapajós, no oeste do Pará, homens e mulheres se enfeitaram com pinturas tradicionais para a festa dos concluintes do curso de Licenciatura Intercultural Indígena, vinculado ao Plano Nacional de Formação de Professores (Parfor), promovido pela Universidade do Estado do Pará (Uepa). Nas cerimônias, o cocar, símbolo de todo o saber ancestral, dá lugar também ao capelo (chapéu tradicional dos formandos), indicando que os alunos passam a deter também o conhecimento acadêmico.

As solenidades de outorga de grau foram iniciadas na última quarta-feira (7), com a turma Wai-Wai, no município de Oriximiná, e terminaram na noite desta sexta-feira (09), com a formatura da turma Tapajós-Arapiuns-Santarém. Cada território etnoeducacional reúne integrantes de diversas etnias.

Gedeão Arapiuns é um dos formandos da área de Ciências Humanas e Sociais. “É uma conquista importante para a afirmação da nossa identidade e para propagar os nossos direitos. Por muito tempo nós sofremos preconceito por não termos o ensino superior”, declarou. Orador da turma de Santarém, ele se preparou com antecedência para a cerimônia, cujos ritos solenes são adaptados para respeitar a cultura tradicional, desde o canto de entrada, a execução do hino e os pronunciamentos nas línguas indígena e portuguesa.

“Sabíamos que não seria fácil, como realmente não foi e nunca será. Romper o preconceito e encarar a mais nobre das lutas em defesa dos direitos indígenas e garantir a formação foi o desafio aceito por cada um. Muitas foram as dificuldades enfrentadas. Muitos desistiram ou pensaram em desistir, mas nossa união nos fortaleceu”, enfatizou Gedeão Arapiuns no discurso.

Ultrapassando fronteiras - Para Joelma Alencar, coordenadora do curso, a universidade ultrapassa os próprios muros para ir às aldeias e cumprir seu papel social de educar. “É uma oportunidade para os professores viverem o contexto das comunidades e formar docentes qualificados para atuar nas escolas indígenas, estabelecendo o diálogo do saber tradicional com o conhecimento acadêmico. A formatura é a conquista dos alunos por todo o esforço em superar as distâncias e os desafios para estar em sala de aula. Significa a celebração da luta do movimento indígena em prol da qualidade escolar dos povos tradicionais”, ressaltou Joelma Alencar.

Foram graduados 22 indígenas em Santarém e 36 em Oriximiná. A celebração da turma Wai-Wai teve um aspecto que a tornou ainda mais especial: não houve nenhuma desistência entre os matriculados no início do curso. Nem a distância fez os alunos abdicarem dos estudos. Morando em aldeias localizadas na fronteira com a Guiana Inglesa, alguns precisaram viajar durante vários dias para assistir às aulas.

Pioneirismo - Esta foi a primeira conclusão de turmas interculturais do Parfor, que reúnem todos os formandos que já atuam em sala de aula, no Ensino Fundamental, nas aldeias de origem.

De acordo com a coordenadora do Parfor na Uepa, Kátia Melo, com essa oferta o Pará é pioneiro ao estender a modalidade de ensino para os povos indígenas. “Estamos na contramão da descolonização do saber. Hoje os professores vão ao encontro dos alunos, e não o contrário. A experiência foi apresentada em Brasília (DF) em um encontro nacional, e os colegas ficaram impressionados com a capacidade da Uepa em buscar, se deslocar e se abrir para o conhecimento tradicional”, contou a coordenadora.

Entre os indígenas, os planos para o futuro são muitos. Voltar para as escolas nas aldeias com o diploma na mão é uma vitória, mas eles querem ir além, e já almejam uma pós-graduação. O desejo foi manifestado formalmente à coordenação do curso e do Parfor, que já trabalha para atender a demanda de implantação de cursos de especialização indígena no Parfor Norte.