Governo realiza transplante inédito de samaumeiras na BR-316
Replantio das árvores faz parte do projeto de paisagismo da rodovia
“Eu pensei que ela seria completamente cortada, mas, achei ótimo quando soube que seria transferida. Vou ficar sempre perto dela. Para mim, é algo muito especial olhar para uma árvore vendo ela crescendo a cada dia. Fico muito satisfeito”, comentou o operário Eliseu Ramos da Silva, de 81 anos, morador do bairro Guanabara, em Ananindeua, ao acompanhar o transplante de uma das duas samaumeiras que estavam localizadas no canteiro central da BR-316, no KM-3, na manhã do sábado (1º). A iniciativa inédita, desenvolvida pelo Governo do Estado por meio do Núcleo de Gerenciamento de Transporte Metropolitano (NGTM), na grande Belém, integra o projeto de paisagismo da Nova BR que nos primeiros 10, 8 km prevê o plantio de 26 diferentes tipos de árvores e 1.594 mudas nos canteiros central e lateral da rodovia.
O trabalho contou com a participação de engenheiros e especialistas na área ambiental, além de representantes do Departamento Estadual de Trânsito (Detran). A primeira árvore a ser transplantada foi a menor, na tarde da sexta-feira (31), o que durou cerca de 2 horas. Já a árvore maior, foi retirada logo no início da manhã de sábado (1º) e levou aproximadamente 6h todo o procedimento. Agora, as árvores passam a se desenvolver em uma das pétalas do viaduto do Coqueiro, sentido Belém-Marituba.
Todas as etapas da ação foram realizadas em cinco dias, períodos do dia e da noite, conforme o cronograma, para gerar menor impacto no fluxo de veículos naquele trecho da BR-316. Também foi necessário a poda total das árvores devido a uma passarela localizada a caminho do destino das samaumeiras. A árvore maior possui em torno de 25 anos, tem 10 metros de alturea (sem folhagem) e pesa cerca de 15 toneladas. Já a menor, tem em torno de 12 anos, atinge altura de 7 metros (sem folhagem) e pesa cerca de 5 toneladas.
Projeto – Inicialmente, o projeto da Nova BR previa o corte com supressão vegetal das duas árvores, porque elas estão na faixa de domínio das obras. Mas, o Governo do Estado, sensível à causa ambiental, decidiu pela manutenção das samaumeiras por meio do transplante.
“Ainda que elas continuassem ali, não resistiriam aos impactos da construção. Então, procuramos uma empresa especializada e estamos fazendo o possível para salvá-las”, explica o engenheiro Eduardo Ribeiro, diretor-geral do NGTM.
O projeto foi apresentado para representantes de entidades ligadas à preservação do meio ambiente e que atuam na região pelo NGTM e Iderflor-Bio, parceiro na ação no dia 21 de janeiro, no Parque do Utinga.
"Entendemos que o transplante das samaumeiras se configura como alternativa de compensação louvável, dada a importância dessa espécie, que é uma árvore mitológica para nossa região, tanto pelo seu imponente tamanho mas principalmente pelo serviço ecossistemico que desempenha no nosso bioma amazônico. O Governo do Pará e todos os municípios que compõe este Estado tem a obrigação de defender nossos recursos naturais e nossa biodiversidade, por isso congratulamos o Governo do Estado do Pará na atenção as Samaumeiras da BR 316. Reflorestamento urbano e rural pode trazer maior qualidade de vida e desenvolvimento econômico e sustentável para a população em geral", comentou Brenda Lopes, deiretora de projetos do Instituto Manguezal.
Outras três samaumeiras, duas delas localizadas na rodovia próximo ao viaduto do Coqueiro, e uma na área onde está sendo construído o prédio do Centro de Controle Operacional (CCO) – no complexo do Comando Geral da Polícia Militar, na Augusto Montenegro – também serão integralmente preservadas devido a uma readequação no projeto e não precisarão ser retiradas do local. O Ideflor-bio fará a doação de 10 mudas da mesma espécie para o plantio no Parque do Utinga, área de conservação estadual.
A samaumeira é protegida por Lei do Município de Belém nº 7.709/1994, que prevê a permanência da espécie existentes nos logradouros públicos por integrarem o patrimônio histórico e ambiental da cidade. “A gente reconhece o valor que essa espécie tem para o ambiente urbano e rural. Ela se destaca entre as espécies e tida como a árvore rainha da floresta”, afirma Kleber Perotes, diretor de Desenvolvimento da Cadeia Florestal do Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio).
Trabalho - De acordo com Amauri Chaves, engenheiro civil e agrônomo da contratada no Pará, o transplante envolveu uma equipe especializada e inúmeros cuidados para o sucesso da operação. “A primeira dificuldade foi quanto à logística, pois estamos às margens de uma rodovia extremamente movimentada. Depois, foi o corte do vegetal, sendo necessário estudar detalhadamente todos os pontos de poda e corte de raiz. Fizemos o sistema de esteio para segurar, com cabos, e garantir a estabilidade delas até o momento do içamento”, disse.
Todos os cuidados foram tomados para que os processos ocorressem dentro do planejado. “Tudo foi feito com muita calma, paciência e segurança tanto para a integridade física de todos os envolvidos quanto dos vegetais”, acrescentou Chaves. Ainda segundo o especialista, o tempo estimado para que as samaumeiras retomem o volume da copa que possuíam é de, no mínimo, um ano.
Jorge Sakai, engenheiro agrônomo que atua há 45 anos nessa atividade em São Paulo e que veio dar apoio à ação, disse que o transplante de árvores nesse porte é comum em outras regiões do país. E, pela experiência dele na atividade, as chances de sucesso são grandes. “Essa espécie, normalmente a chance de sobrevivência é muito grande porque é nativa da região. É uma operação muito grande e não existe outro jeito de se fazer”, comentou.
Ainda segundo Sakai, outra característica propícia ao desenvolvimento no novo destino é o inverno amazônico. “Estamos no melhor período de fazer essa operação. Em São Paulo, árvores grandes eu não faço fora do período do inverno porque elas precisam ser regadas após o transplante. E, a gente aproveita a oportunidade para fazer isso nessa época e provocar um estresse muito menor para a árvore”, detalha. “Louvo a iniciativa do Governo em preservar essa árvore que é significativa para a região”, acrescenta.