Estudantes de Outeiro participam do "aulão" Pro Paz
Ao lado das três filhas, a dona de casa Maria Felipa Sarmento Madureira, 62 anos, vai fazer as provas do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem 2017) em novembro. Ela almeja ser aprovada para o curso de Administração. Focadas nos estudos, mãe e filhas aproveitaram a oportunidade de agregar conhecimentos a seus estudos por meio do aulão do programa Pro Paz Enem, realizado no auditório da Escola Bosque, no distrito de Outeiro, neste sábado, 24.
O Pro Paz Enem é uma iniciativa do Governo do Estado, por meio da Fundação Pro Paz, em parceria com a Secretaria de Estado de Educação (Seduc), que tem como objetivo preparar jovens e adultos de escolas públicas estaduais de Belém e de outros municípios paraenses ao Enem. Realizado há três anos, o projeto já atendeu 23 mil estudantes e tem como meta este ano possibilitar a 27 mil alunos o acesso a conteúdos dos quatro eixos do Exame.
Maria Felipa, cujo marido atua como pedreiro, trabalhou em uma fábrica de fósforos em Icoaraci há cerca de 30 anos. “Eu quero aprender mais e ter novamente um emprego com carteira assinada”, disse. Ao lado de Maria Felipa, assistiram ao aulão do Pro Paz Enem as filhas Keylla Monize, 31 anos, que pretende cursar Fisioterapia; Kelly Rosana, 30 anos, de olho em uma vaga para Pedagogia, e Keisy Adrielle, 25 anos, que pretende cursar Terapia Ocupacional. Todas as quatro mulheres chegaram cedo ao aulão, que teve 110 estudantes inscritos em Outeiro e Icoaraci.
Com seis professores, a formação enfocou conteúdos de Química e Biologia na área de Ciências da Natureza e suas tecnologias; Filosofia e História, na área de Ciências Humanas e suas tecnologias e Língua Portuguesa e Redação na área de Códigos, Linguagens e suas tecnologias.
Parceria
Sete amigos, moradores de Outeiro que se conheceram quando cursaram o Ensino Médio na Escola Bosque, foram juntos assistir a aula. São eles: Renan Cavalcante, 21 anos (quer cursar Relações Internacionais); Letícia Vilhena, 18 anos (Educação Física); André Sindeaux, 19 anos (Engenharia Florestal); Joerbete Costa dos Santos, 18 anos (Engenharia Ambiental); Iara Vieira, 18 anos (Moda); Alice Cavalcante, 19 anos (Design de Interiores), e Maria Aparecida Souza, 19 anos (Engenharia Ambiental).
Maria Aparecida mora em Cotijuba e estuda sete horas por dia para o Enem. Filha de pai pedreiro e mãe empregada doméstica, ela faz o cursinho preparatório da Prefeitura de Belém. “Ter esse aulão aqui é importante para a gente tirar dúvidas, aprender mais”, disse. Iara Vieira, filha de motorista de trator, lembrou que participou do primeiro aulão do Pro Paz Enem no Centur no dia 4 deste mês. “Vale a pena, porque a gente estuda junto”, arrematou.
Estudar em parceria é proveitoso para os estudantes, como disse o professor Reginaldo Jatty, de Linguagens. “Sem dúvida, o estudo levado a sério e em grupo funciona como um incentivo a mais para os estudantes”, observou.
Ainda segundo ele, quanto mais informação, melhor para os estudantes, porque a estrutura de prova do Enem é toda interdisciplinar. "E é importante que o candidato saiba estudar certo, focando nas habilidades e competências, fazer a interrelação de conteúdos e não ficar horas e horas estudando sem planejamento”, completou o professor de História, Júlio Charchar.
A diretora da Fundação Pro Paz, Priscila Alves, ressaltou que este foi o primeiro aulão do Pro Paz Enem no distrito de Outeiro. “Estamos desde o ano passado em um processo de expansão das atividades do programa, levando aulas a uma maior quantidade de alunos”, pontuou a diretora, ao lado de Kátia Gandra, da coordenação do Pro Paz Enem.
O projeto também foi saudado pelo diretor da Escola Bosque, Wilson Martins. Ele observou que no distrito não funcionam cursinhos de preparação ao Enem. “Com a crise econômica, se agrava a falta de recursos dos alunos e pais para o transporte até o centro de Belém e muitos jovens quando terminam o Ensino Médio acabam ingressando no mercado informal, atuam em subempregos e existe o risco do ingresso deles na criminalidade”, ressaltou Martins. “Esse aulão contribui com a luta por um futuro para esses jovens”, completou a líder comunitária Raimundinha Moraes.