Polícia investiga desaparecimento de corpo do Hospital de Clínicas
“Estamos diante de um fato inusitado. Há 17 anos trabalhando com UTI neonatal eu nunca tinha visto uma coisa dessas”, declarou Alessandra Bentes, diretora técnica do Hospital de Clínicas Gaspar Vianna, sobre o desaparecimento do corpo de um bebê de 20 dias do necrotério da unidade. Em coletiva à imprensa, na manhã desta quarta-feira (19), a diretoria do hospital e a Polícia Civil, que assumiu a investigação do caso, detalharam as circunstâncias e o que está sendo feito para chegar aos responsáveis pelo crime. A delegada geral adjunta da Polícia Civil do Pará, Cristiane Ferreira, conclamou os servidores do HC e a população em geral a colaborarem com o trabalho da corporação.
Internado no Hospital de Clínicas desde o dia 1º de julho, o bebê do sexo masculino, nascido em Concórdia do Pará, era portador de Síndrome de Patou, um tipo de cardiopatia congênita grave e com elevado risco de morte. A criança recebeu todos os cuidados necessários, mas não passou por procedimento cirúrgico, pois não tinha condições para isso. E no dia 17 de julho, às 00h45, veio a óbito.
O contato com a família para informação da morte foi feito ainda durante a madrugada. Pela manhã, a mãe e a tia da criança chegaram ao HC e em seguida saíram para tomar as providências necessárias para o velório e enterro. Nesse intervalo, o corpo do bebê permaneceu na câmara frigorífica do necrotério do hospital. Ao fim da tarde, quando o carro da funerária chegou, nada foi encontrado no local.
Apoiada pela equipe de Psicologia e de Assistência Social do HC, a mãe da criança foi orientada a registrar boletim de ocorrência, tendo inclusive o suporte dessas profissionais na ocasião. “Queremos que esse crime seja resolvido o mais rápido possível. Estamos contribuindo com as investigações da Polícia e assim que o inquérito for finalizado vamos tomar todas as providências necessárias para que fatos como esse jamais voltem a ocorrer nessa instituição”, reforçou a diretora técnica do hospital.
A ocorrência do desaparecimento foi registrada na noite do mesmo dia pela mãe da criança. “O registro foi feito na Seccional de São Brás, que encaminhou inicialmente o caso para a Delegacia da Pedreira, responsável pela circunscrição em que está inserido o hospital. Mas em decorrência da peculiaridade e da importância da elucidação imediatada da situação, esse procedimento será avocado para a Divisão de Atendimento ao Adolescente (Data), onde nós temos uma delegacia de proteção à criança, que agora passa a acompanhar o caso."
De acordo com a delegada Cristiane Ferreira, a colaboração tanto dos funcionários do hospital como da população é de extrema importância. “Qualquer pessoa que tenha alguma informação deve entrar em contato com o Disque Denúncia (181). “Depois de fazer algo desse tipo ninguém sai por aí agindo normalmente, e muito menos guarda pra si o que fez. Em geral acaba contando para alguém. Por isso aproveitamos para pedir esse apoio”, comentou.
“O inquérito foi iniciado, algumas oitivas já foram realizadas e outras já estão agendadas, assim como as perícias serão realizadas. Queremos deixar claro que empreenderemos todos os esforços para elucidar esse crime e chegar aos culpados, não só para que possamos responsabilizá-los criminalmente, mas também para subsidiarmos o procedimento administrativo que foi aberto no HC”, explicou.
A diretora do Hospital de Clínicas lamentou profundamente o ocorrido e falou da consternação de todos diante do caso. “Esse desaparecimento nos chocou. Nossa missão aqui é tratar da saúde das pessoas e devolvê-las bem ao convívio de seus familiares e amigos, na perspectiva de garantir qualidade de vida a todos os nossos pacientes. Para isso contamos com uma equipe treinada, qualificada. Estamos tão indignados quanto qualquer outra pessoa diante de um fato desses e esperamos que as investigações da polícia possam esclarecer o mais rapidamente possível o que ocorreu”, ponderou Alessandra Bentes.