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'PAN NAS ESCOLAS'

Escritora Djamilla Ribeiro interage com estudantes da rede pública na Terra Firme

Por Elck Oliveira (SEIRDH)
29/08/2019 16h37

Os alunos participaram ativamente do debate com a escritora“Precisamos combater todas as opressões de maneira igual, interseccional”. Esse foi o principal recado da filósofa, escritora e ativista Djamilla Ribeiro aos alunos da Escola Estadual Brigadeiro Fontenelle, no bairro da Terra Firme. A autora esteve no local atendendo ao convite da 23ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, que prossegue até domingo (1°), no Hangar - Centro de Convenções e Feiras da Amazônia.

Djamilla Ribeiro falou do enfrentamento ao preconceito e às outras formas de opressãoDjamilla Ribeiro foi uma das autoras levadas a uma escola estadual por conta da ação intitulada “Pan nas Escolas”, uma das inovações desta edição da Feira. A ideia é aproximar os escritores convidados para o evento de estudantes das áreas localizadas no raio de ação do Programa Territórios Pela Paz (TerPaz).

A Escola Estadual Brigadeiro Fontenelle mantém, hoje, com cerca de 1,5 mil estudantes, nos ensinos fundamental, médio e na Educação de Jovens e Adultos (EJA). Com 47 anos de história, a escola fica em uma das áreas mais violentas de Belém, o bairro da Terra Firme. Segundo a diretora da instituição, Benedita Silva, levar a Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes para dentro das escolas é fundamental para melhorar a autoestima dos alunos. “Muitas vezes, os nossos estudantes não têm acesso a bens culturais. Poder proporcionar isso para eles é grandioso, é gerar oportunidades e esperança”, ressaltou.

O “Pan nas Escolas” aproxima os escritores convidados de alunos da rede públicaFeminismo negro - Djamilla Ribeiro, que nasceu em Santos (SP), formou-se em Filosofia e fez mestrado em Filosofia Política, contou sobre as dificuldades que enfrentou até conseguir entrar na universidade, e do quanto o racismo nega oportunidades para negros, principalmente para as mulheres. “Eu sigo a perspectiva do feminismo negro, que diz que as opressões não têm hierarquia; todas são iguais e precisam ser combatidas. No Brasil, a opressão não é só de raça, de gênero ou de classe, mas de tudo isso junto, por isso é que a mulher negra está na base da sociedade, porque ela é alvo de tudo isso junto”, enfatizou.

Ela apresentou aos estudantes a coleção “Feminismos Plurais”, que coordenou pela editora “Polén Livros”. Os livros apresentam questões relacionadas ao feminismo. É o caso de “Lugar de Fala”, de autoria da própria Djamilla, um dos seus maiores sucessos de venda. “Entender o lugar de fala é entender o nosso lugar social. É compartilhar a experiência de um determinado grupo; é identidade”, frisou.

Para a adolescente Bruna Teixeira, 16 anos, aluna do 2º ano do ensino médio, discutir temas como racismo e violência no âmbito da escola ajuda a compreender melhor a própria realidade. “Tem muitas coisas que a Djamilla falou aqui que fazem parte da nossa vivência e, por isso, nos identificamos com ela. O exemplo dela nos mostra que podemos sair dessa realidade e chegar aonde quisermos”, concluiu.A programação da Feira agradou professores e estudantes

A mesma concepção tem Marcos Pereira, 17 anos. Também estudante do 2º ano do ensino médio, ele contou que convive, diariamente, com as consequências do racismo dentro de casa. “Embora eu tenha a pele mais clara, tenho pai e irmãos negros. E vejo o quanto eles têm medo de sair de casa em determinados horários, porque não sabemos o que pode acontecer. Faz uma grande diferença quando vem aqui uma autora como a Djamilla e mostra que não precisamos ter medo ou vergonha de sermos o que somos”, afirmou.

Acesso à cultura - Já a professora Lília Melo, idealizadora do Projeto Cine Clube Terra Firme – já premiado nacionalmente –, que incentiva e dá oportunidade aos estudantes de desenvolverem suas habilidades artísticas, como música, teatro e dança, aprovou a oportunidade de ter a Feira do Livro dentro da Escola Brigadeiro Fontenelle. “Eu sou professora apenas da 'Brigadeiro Fontenelle' e sei o quanto é importante trazer esse espaço para dentro da escola, já que muitos dos nossos alunos não conseguem sair daqui para ter acesso à cultura. É a primeira vez que vejo a Feira do Livro realizar esse tipo de ação, e esperamos que possa continuar. Trazer autores como a Djamilla, que tratam de temáticas como o feminismo negro, para dentro das escolas de periferia é fazer com que as pessoas entrem em contato com essas obras e possam começar a construir instrumentos para lutar contra a opressão, além de ajudar a formar leitores”, disse a professora.

Já o diretor de Cultura da Secretaria de Estado de Cultura, Júnior Soares, que também é um dos coordenadores da 23ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, ressaltou a importância de se estender o evento para outros espaços, uma diretriz do Governo Helder Barbalho. “Essa iniciativa, sem dúvida, fortalece o vínculo com a leitura e tem o caráter de levar as vozes que precisam ser ouvidas para as periferias, as quais, em grande medida, não têm acesso à cultura”, acrescentou.