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LITERATURA

Livro registra práticas e reflexões da Medicina Tradicional Popular Amazônica

Por Nailana Thiely (UEPA)
29/08/2019 12h58

Quem vive na Amazônia sabe bem o que significa  "tirar o quebranto", "fazer uma reza", "botar uma junta no lugar" ou simplesmente utilizar chás para a cura de enfermidades. Este mundo de conhecimentos sobre saúde, provenientes de benzedeiras, pajés, "consertadeiras", parteiras, ribeirinhos e povos tradicionais da Amazônia em geral é o tema do livro "A Medicina Tradicional Popular Amazônica e Temas Afins",  organizado pela professora Rosineide da Silva Bentes e promovido pelo Grupo de Estudo e Pesquisa em Meio Ambiente e Saúde Coletiva (GEPEMASC) do campus da Uepa em Santarém. O lançamento será realizado no dia 30 de agosto, às 18h, na mesa 3 da 23ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes. 

O volume A Medicina Tradicional Popular Amazônica e Temas Afins faz parte da Série Vidas, que pretende dar voz a um tipo ou grupo social amazônico em cada publicação. Os livros buscam apreender as características mais marcantes de como os povos amazônicos se percebem e vivenciam as mais diversas facetas da vida e da Amazônia. Também busca refletir sobre a complexidade e a beleza da realidade e criações/invenções locais, das histórias social e ambiental, das visões de saúde e doença, concepções e práticas de cura. A editora CRV é uma empresa curitibana voltada para a publicação de conteúdos científicos de pesquisadores e doutores de todo o mundo, com autores de toda a América do Sul, Cuba, México, Estados Unidos, Canadá, Portugal, Cabo Verde, Angola, Alemanha, dentre outros.

Entre os temas abordados no livro estão: Atendimento humanístico; Medicina Tradicional Popular Amazônica (MTPA); Práticas tradicionais em comunidades ribeirinhas; Medicina tradicional no cuidado em saúde de jogadores de futebol em Óbidos; Adesão do profissional de medicina e enfermagem à MTPA; Garantia de propriedade intelectual; Conhecimento e uso de plantas medicinais entre indígenas Wai Wai, entre outros. A publicação inclui pesquisadores indígenas e ribeirinhos, com investigações sobre a MTPA e temas correlatos nas últimas três décadas.  

Inovação -  A coletânea de textos, entrevistas e relatos inova ao utilizar o termo Medicina Tradicional Popular Amazônica (MTPA) para abordar as antes denominadas “práticas de cura” presentes nas sociedades amazônicas.  Segundo a professora Rosineide Bentes, organizadora do livro, o termo "medicina tradicional" é antigo e muito utilizado no exterior. A medicina popular chinesa, por exemplo, foi reconhecida pela Organização das Nações Unidas (ONU) como patrimônio cultural da humanidade com o nome de Medicina Tradicional Chinesa. O termo se refere às medicinas que são criadas e utilizadas por populares há séculos. Já o termo Medicina Tradicional Popular Amazônica (MPTA) foi utilizado pelo médico Adalto Pontes Filho, nas pesquisas de iniciação científica e de Trabalho de Conclusão do curso de Medicina, orientados pela professora Rosineide Bentes, na Uepa, em Santarém. "Fizemos pesquisas juntos e verificamos que esse é o termo adequado, pois é capaz de apreender a sofisticação e a longevidade dessa medicina na Amazônia. A denominação 'práticas culturais', na nossa opinião, não consegue transmitir a sofisticação dos conhecimentos e procedimentos dessa medicina popular", afirma a professora.

Preconceito acadêmico e decolonialismo -  O livro traz as novas possibilidades de abordagens do tema, que podem ser encontradas na fenomenologia e na ciência quântica.  Para a professora Rosineide Bentes, existe preconceito contra a MTPA no mundo acadêmico da área da saúde no Brasil. "Os profissionais da área da saúde e das várias áreas de conhecimento acadêmico, em particular no Brasil, são formados na ciência moderna. E herdaram os preconceitos dos colonizadores europeus contra os indígenas e os  brasileiros populares. Nesse trabalho, mostro que as políticas de humanização dos atendimentos em saúde pelo SUS (Sistema Único de Saúde) avançam um pouco em relação à medicina alopática, mas não avançam o tanto que poderiam do ponto de vista científico", diz. 

Ao atender recomendações da Organização Mundial da Saúde, o governo brasileiro criou políticas visando o atendimento humanizado e a inclusão de fitoterápicos populares e de algumas terapias holísticas no SUS. Contudo, há lacunas na política governamental em relação à MTPA, pois carece de mais conhecimento sobre esses saberes. A falta de diálogo entre saberes tradicionais e formais reduz, segundo os autores, os benefícios que uma política dessa natureza poderia propiciar à saúde coletiva. Outra dificuldade está na impossibilidade de profissionais de saúde formados na visão biomédica dos processos de adoecimento e cura compreender, cientificamente, e valorizar os conhecimentos dos terapeutas da MTPA.

As práticas da Medicina Tradicional Popular Amazônica (MTPA) possuem um sistema de técnicas propedêuticas bem elaboradas, que correlaciona dados anatômicos, fisiológicos, emocionais e espirituais em busca de um diagnóstico, tendo a terapêutica prescrita fundamentos fitoterápicos, massoterápicos e espiritualistas. É uma medicina holística. Por ser espiritualista, a MTPA não pode ser compreendida pela perspectiva materialista biologista da medicina alopática. 

Para Rosineide Bentes a visão depreciativa dos povos nativos foi estendida para os brasileiros populares em geral. "Os acadêmicos brasileiros, portanto, procuram se identificar com o colonizador e distinguir-se dos brasileiros populares por causa dessa visão preconceituosa que herdamos dos colonizadores. Na minha opinião isso é muito triste porque mostra que os acadêmicos brasileiros, em geral, não conhecem sua própria história e não têm identidade nacional.  Os estrangeiros percebem isso", avalia a professora.  

Serviço:

Lançamento do livro A Medicina Tradicional Popular Amazônica e Temas Afins

Data: 30.08.19

Hora: 18h

Local: Mesa 03 da  XXIII Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, que ocorre no Hangar Convenções e Feiras da Amazônia, em Belém.

Site da editora CRV: https://editoracrv.com.br 

Conheça os autores:

ORGANIZADORA: ROSINEIDE DA SILVA BENTES -  Docente da Universidade do Estado do Pará – UEPA. Ph.D. em História Social/Política Social (1998) pela London School of Economics and Political Sciences – LSE, Universidade de Londres/Inglaterra; mestre em Planejamento Interdisciplinar Internacional de Desenvolvimento do Trópico Úmido (NAEA/UFPA); graduada em Serviço Social (UFPA). Após o doutorado na Inglaterra (1993-1998), por cinco anos (1999-2003), residiu nos Estados Unidos (San Francisco, Davis, Santa Cruz e Milwaukee), onde lecionou em três universidades. Formação nas terapias holísticas Reiki I, II e III e Cura Quântica. Tem experiência pessoal de mais de 15 anos com tratamentos naturalistas e holísticos. Por mais de oito anos, vem pesquisando e orientando trabalhos acadêmicos sobre as práticas espiritualistas de cura baseadas no uso da natureza – ou Medicina Tradicional Popular Amazônica. Possui mais de 30 anos de experiência em pesquisa interdisciplinar sobre a Amazônia. Temas: visões holísticas de adoecimento e cura; a MTPA; Meio Ambiente e Saúde Coletiva; Problemas Ambientais Internacionais; Ambientalismo Internacional; Problemas Ambientais na Amazônia; História Ambiental da Pan-Amazônia, inclusive as visões de natureza e tecnologia e a apropriação e utilização da terra na Amazônia brasileira; ingleses na Amazônia; Empresa de Borracha. Líder do Grupo de Estudo e Pesquisa em Meio Ambiente e Saúde Coletiva – GEPEMASC. Organizadora da Série Vidas. De 2013 a 2018 foi Membro do Parque Científico e Tecnológico para Inclusão Social: rede de pesquisa, extensão e inovação tecnológica - PCTIS/UFAM/SECIS/MCTI.

ADALTO ALFREDO PONTES FILHO - Médico graduado pela Universidade do Estado do Pará – Campus XII Santarém, Residente em Medicina Preventiva e Social da Faculdade de Medicina da USP. Estudou Reiki I e II e estuda acupuntura.

ELOÍSA AMORIM DE BARROS  -  Professora do Instituto Esperança de Ensino Superior (IESPES); Psicóloga – Graduada pela Universidade da Amazônia – UNAMA; especialista em Saúde na Atenção Integral em Ortopedia e Traumatologia – UEPA; mestranda em Sociedade, Ambiente e Qualidade de Vida – UFOPA.
 
MARIA DO PERPÉTUO SOCORRO RODRIGUES CHAVES - Docente do Departamento de Serviço Social da Universidade Federal do Amazonas (UFAM), Doutorado em Política Científica e Tecnológica (UNICAMP/CIRED/2001), Doutorado em Processus d´Inovation Changements Organisationnel (Centre International de Recherche Sur L`Environment et le Devellopment (CIRED), Paris/França (1999). Bolsista Produtividade CNPq, Coordenadora do Grupo Interdisciplinar de Estudos Socioambientais e de Desenvolvimento de Tecnologias Apropriadas na Amazônia; Coordenadora do Observatório de Economia Criativa – AM; por vários anos foi Coordenadora do Parque Científico e Tecnológico para Inclusão Social: rede de pesquisa, extensão e inovação tecnológica/UFAM/SECIS/MCTI. Áreas de interesse: populações tradicionais, sustentabilidade, políticas públicas, inovação e tecnologia social e cultural.
 
DEBORA CRISTINA BANDEIRA RODRIGUES - Docente do Departamento de Serviço Social e do Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia (PPGSS) da Universidade Federal do Amazonas (UFAM); doutorado em Biotecnologia, área de concentração de Gestão da Inovação (PPGBiotec/UFAM/2001); mestrado em Sociedade e Cultura na Amazônia (UFAM/2009). Vice-coordenadora do Grupo Interdisciplinar de Estudos Socioambientais e Tecnologias Sociais na Amazônia. Temas de pesquisa: questões socioambientais na Amazônia; conhecimentos tradicionais na Amazônia; pesquisa-ação; pesquisa participante; cidadania – interdisciplinaridade, educação ambiental – formação profissional e relação homem-natureza.
 
JÉSSICA DAIANE DE LEMOS RODRIGUES -  Graduação em Serviço Social, Especialização em Gestão e Planejamento de Projetos Sociais; mestranda no Programa de Pós-Graduação em Serviço Social e Sustentabilidade na Amazônia (PPGSS/UFAM); orientanda da Prof.ª Drª.  Ma. do P. Socorro Rodrigues Chaves. Pesquisadora do Grupo Interdisciplinar de Estudos Socioambientais e de Desenvolvimento de Tecnologias Sociais na Amazônia; bolsista CAPES pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM.  
 
ANGÉLICA RIBEIRO DE OLIVEIRA MALATO - Graduada em Enfermagem – UEPA / 2016; pós-graduação em Ginecologia e Obstetrícia – ESAMAZ, 2018 (cursando); curso de Capacitação em Atenção Integrada às Doenças Prevalentes na Infância (AIDPI) – carga horária: 60 horas, Santarém – PA, 2016; participação no PIBIC UEPA com o projeto: Um diagnóstico das pesquisas acadêmicas relacionadas à saúde indígena no município de Santarém – PA – carga horária: 40 horas semanais, Santarém – PA, 2015/2016; participação voluntária no projeto Saúde Carcerária – carga horária: 04 horas, Santarém – PA, 2014; curso de Tocotraumatismos e Hemorragias Uterinas – carga horária: 20 horas, Santarém – PA, 2013.
 
TAINÁ OLIVEIRA MARINHO - Graduada em Enfermagem – UEPA, 2016. 
 
ELCIENE SOUSA SÁ - Graduada em Enfermagem (UEPA/2017); cursou Saúde Indígena (UMA-SUS). Monitora voluntária da disciplina Biologia/Citologia e Histologia (fev. 2013 a fev. 2014; voluntária no atendimento a
paciente de câncer; membro da Equipe Saúde do I JIBAT – Jogos Indígenas do Baixo Amazonas, 2016; participou do Grupo de Estudo e Pesquisa em Meio Ambiente e Saúde Coletiva (GEPEMAC/UEPA Santarém).
 
SAMILLA CALDERARO GATO - Graduada em Enfermagem (UEPA/2017); atuou como bolsista em projeto PIBIC/CNPQ e como bolsista em projeto de extensão financiado pela UEPA; membro da equipe de Saúde do I JIBAT –Jogos Indígenas do Baixo Amazonas, 2016; atuou na Semana dos Povos Indígenas na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA); cursou Saúde Indígena (UMA-SUS) e participou do Grupo de Estudo e Pesquisa em Meio Ambiente e Saúde Coletiva (GEPEMAS/UEPA Santarém).
 
DENISE LIMA DE SOUSA -  Universidade do Estado do Pará – UEPA, graduanda do Bacharelado em Medicina; graduada em Farmácia pela Universidade Federal do Amazonas – UFAM (2012)
 
GABRIEL TAVARES DE OLIVEIRA SILVA - Universidade do Estado do Pará – UEPA, graduando do Bacharelado em Medicina; diretor de Humanidades da Liga Acadêmica de Medicina de Família e Comunidade (Lamfac) e Secretário da Liga de Pediatria (Laped); membro da Liga de Radiologia do Oeste do Pará (Larop); diretor Financeiro do Centro Acadêmico de Medicina durante o mandato de 2016.
 
OSMARINA NASCIMENTO PIRES - Docente da Universidade do Estado do Pará – UEPa, Campus Santarém; bacharel em Ciências Sociais pela Universidade da Amazônia (1993); especialista em Planejamento em Saúde Coletiva e Epistemologia para gerenciamento de saúde. Atualmente é auditora da Secretaria Municipal de Saúde de Santarém, coordenadora Municipal DST/HIV/AIDS/Hepatite Virais – CTA – SAE Santarém, Secretaria Municipal de Saúde em Santarém.
 
SEBASTIÃO MARCELICE GOMES (IN MEMORIAN)  - Graduado em Geografia pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (1976); graduação em Direito pela Universidade Federal do Amazonas (1984); mestrado em Direito Ambiental pela Universidade do Estado do Amazonas (2004); doutorado em Biotecnologia na área de concentração em Biotecnologia na área Gestão em Inovação, pela Universidade Federal do Amazonas (2013). Foi Professor Adjunto, Nível I, e Diretor da Faculdade de Direito da Universidade Federal do Amazonas, com experiência na área de Direito e ênfase em Direito Público e Privado.
 
RODOLFO SOUZA DA SILVA - Advogado, inscrito na OAB/AM nº 7.111 e OAB/RS nº 82.842A, atuando na área do Direito Civil (Contratos e Consumidor), Direito e Processo do Trabalho e Responsabilidade Civil. Também possui experiência na área do Direito Público, com ênfase em Direito Administrativo e Constitucional. Mestre em Direito Público pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos (UNISINOS/RS). Integrante do Grupo de Pesquisa Clínica de Direitos Humanos / BioTecJus (CDH/BTJ), vinculado ao Setor de Ciências Jurídicas da Universidade Federal do Paraná – UFPR.  
 
ALEXSANDRO MELO MEDEIROS - Professor Assistente da UFAM; mestre em Filosofia pela UFPE; doutorando do Programa de Pós- Graduação Sociedade e Cultura na Amazônia da UFAM; bolsista e pesquisador FAPEAM. 
 
ANDRÉ AWPEYASA WAI WAI -  Graduado pelo Intercultural Indígena da Universidade do Estado do Pará – UEPA Oriximiná 
 
GLORIA MARIA FARIAS DA ROCHA - Pedagoga, Universidade do Estado do Pará – UEPA
 
NELSON KOYON WAI WAI - Graduado pelo Intercultural Indígena da Universidade do Estado do Pará – UEPA/Oriximiná.
 
PETRONIO LAURO TEIXEIRA POTIGUAR JUNIOR -  Antropólogo, docente da Universidade do Estado do Pará – UEPA; doutorando do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia da UFPA; mestre em Agriculturas Amazônicas (UFPA, 2008), na linha temática Antropologia Rural; pós-graduado em Docência do Ensino Superior; membro do Grupo de Estudo e Pesquisa em Meio Ambiente e Saúde Coletiva – GEPEMASC.  Há seis anos desenvolve e orienta pesquisa em Saúde Indígena. Tem experiência na área de Antropologia, atuando principalmente nos seguintes temas: Antropologia Saúde Coletiva, Antropologia Saúde Indígena, Antropologia dos povos afrodescendentes, etnomusicologia, pescadores, metodologia do trabalho científico, movimentos sociais e educação, turismo de base comunitária, Antropologia do Turismo e Planejamento.