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AGENDA PAN-AFRICANA

Doutor em Sociologia diz que 'negação do racismo' impede avanços no Brasil

Por Kátia Aguiar (COHAB)
27/08/2019 19h59

Hoje, a população negra na Terra ultrapassa 1,2 bilhão de habitantes, e até 2020 serão mais de 2,5 bilhões, a segunda maior população do planeta. Mas a tendência mundial se reflete no Brasil, onde mais de 52% de seus habitantes se declararam, no último Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), como pretos ou pardos. Uma realidade que impede o avanço do combate ao racismo e da garantia dos direitos constitucionais das populações descendentes de africanos. 

A constatação é do africano Bas’ilele Malomalo, doutor em Sociologia radicado há mais de 20 anos no Brasil, que nesta terça-feira (27) participou do debate "Em defesa de uma agenda pan-africana na década internacional de afrodescendente", na Arena Multivozes, reunindo estudantes, professores e outros segmentos. O debate integrou a programação da 23ª  Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes.

Bas’ilele Malomalo explicou que o pan-africanismo surgiu após uma Assembleia Geral da Unesco (agência da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), por meio da Resolução 68/237, de dezembro de 2013, que proclamou a Década Internacional de Afrodescendentes, de 1º de janeiro de 2015 a 31 de dezembro de 2024, com o tema “Afrodescendentes: reconhecimento, justiça e desenvolvimento”. Mas, segundo ele, não houve grandes avanços no Brasil, “justamente porque no Brasil há uma negação do racismo. No entanto, as populações afro-descendentes seguem sem garantia dos seus direitos, tornando-se urgente a reversão dessa negação e a elaboração de novas estratégias, para que o objetivo pan-americano comece a ser atingido”.

O principal objetivo da Década Internacional é promover o respeito, a proteção e a realização de todos os direitos humanos e liberdades fundamentais de afrodescendentes, como reconhecidos na Declaração Universal dos Direitos Humanos. A Década foi criada para promover uma oportunidade de reconhecimento à contribuição significativa dos afrodescendentes às sociedades, bem como propor medidas concretas para promover sua inclusão total e combater todas as formas de racismo, discriminação, xenofobia e intolerância.

Formação - Bas’ilele Malomalo é natural do Congo, África, e possui graduação em Filosofia pelo Grand Seminaire Saint François Xavier – Filosoficum, e em Teologia pelo Instituto São Paulo de Estudos Superiores (Itesp). É mestre em Ciências da Religião pela Universidade Metodista de São Paulo e doutor em Sociologia. Atualmente, mora em Salvador (BA). Em 2015, lançou um artigo mostrando uma pesquisa da sua experiência e de outros africanos, enfatizando as mobilizações políticas do grupo para lutar contra o racismo, a violência e a insegurança.

O professor de Sociologia Domingos Conceição, que assistiu à palestra junto com outros docentes, destacou a importância de a organização da Feira Pan-Amazônica do Livro ter dedicado um dia da programação às vozes afro-brasileiras. “O governo do Estado e a organização da Feira estão de parabéns pelo conjunto de programações, que abre o campo para debates que atraem jovens, estudantes e educadores para dimensionar o conhecimento da população negra”, disse o professor.

Dentro da temática, Domingos Conceição, que também é escritor, lançará no próximo domingo (1º) o livro “Perdão de um racista”. A noite de autógrafos ocorrerá no estande dos Escritores Paraenses, das 18 às 20 h.

Serviço: A 23ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes prossegue até o dia 1º de setembro, no Hangar - Centro de Convenções e Feiras da Amazônia, das 10 às 21 h.