Orquídea da espécie Vanilla pompona é descoberta no Parque do Utinga
Dos frutos da espécie é retirada a essência da baunilha
Após meses de observações e estudos, foi confirmada a existência da orquídea Vanilla pompona no Pará. A espécie foi descoberta em território paraense pelo pesquisador da Coordenação de Botânica do Museu Goeldi, Leandro Ferreira, no Parque Estadual do Utinga. É do fruto dessa planta que se extrai o aromatizante de baunilha, muito utilizado na culinária. A descoberta já consta no Projeto “Inventário das Vegetações do Parque Estadual do Utinga”, uma parceria entre o Instituto de Desenvolvimento Florestal e da Biodiversidade do Estado do Pará (Ideflor-Bio) e do Museu Paraense Emílio Goeldi (MPEG).
“O mais incrível é encontrar essa planta na Região Metropolitana de Belém, dentro do Parque do Utinga. Isso nos levou a desenvolver projetos de pesquisas aqui dentro com alunos de graduação, mestrado e doutorado”, pontua Leandro Ferreira. “Temos aqui, no Utinga, um laboratório natural para estudo da biodiversidade e, o mais importante, uma ferramenta de formação acadêmica e que auxilia na fixação de profissionais de alto gabarito para atuar no Estado do Pará”, afirma.
Ferreira explicou que os indivíduos dessa espécie entram em floração nesta época do ano e, por isso, estão sendo monitorados diariamente, para que se busque mais informações sobre a produção de flores e frutos, enriquecendo, assim, o conhecimento biológico acerca da espécie. “Estamos esperando ela frutificar. Esses frutos serão coletados e levados para o laboratório de fitoquímica do Museu para acompanhar o grau de vanilina que eles terão”, esclarece.
As abelhas são outro agente importante nesse processo para a polinização da espécie. Na área, já foram identificadas quatro espécies de abelhas. Entre elas estão a do gênero Euglossa, pertencente a tribo Euglossini, e a do gênero Eulaema nigrita. A flor da orquídea abre por volta das 5h30 e solta o seu perfume nos primeiros raios de sol, o que atrai os polinizadores. A abelha entra em cena fazendo o trabalho de fecundação da espécie que consiste na transferência do pólen de uma flor de estrutura masculina para uma de origem feminina, permitindo a formação dos frutos.
FLORA BRASIL – A partir dessa descoberta, a espécie passou por um estudo de identificação e foi catalogada geograficamente no Pará pelo Jardim Botânico do Rio de Janeiro, que administra o site Flora Brasil. Há pelo menos sete indivíduos da espécie Vanilla pompona dentro do Parque. A partir de agora, a ideia é retirar partes da planta para colocar em outros indivíduos dentro da vegetação do Parque e com isso aumentar as populações dessa espécie.
“Quando ela frutificar, vamos verificar a quantidade da substância de vanilina, saber se é viável para produção da essência natural. Pode até se fazer um estudo posterior do plantio dessa espécie dentro do Parque ou outro local, que pode servir de fonte de renda para a população do entorno”, pondera o pesquisador.
PARCELAS PERMANENTES – Em março deste ano foi implantado um outro projeto pelo pesquisador em parceria com o Ideflor-Bio, sendo três parcelas permanentes para monitorar a biota do parque ao longo do tempo. De acordo com o biólogo, os primeiros resultados são bastante animadores: foram marcados 1.374 indivíduos, totalizando 197 espécies em 41 famílias botânicas. Demonstra que os fragmentos florestais do Parque do Utinga têm uma flora bem distinta. E que a conservação deve ser feita em todo o Parque.
AULA PRÁTICA – Na manhã de quarta-feira (14), o pesquisador Leandro Ferreira e o gestor ambiental Augusto Jarthe, responsável pelo monitoramento da fauna do Utinga, ministraram aulas para a disciplina “Inventário da Biodiversidade”, reunindo 10 alunos do doutorado do Programa Bionorte – que engloba os estados da Amazônia Legal, incluindo o Maranhão no nordeste e Mato Grosso no Centro Oeste. O biólogo, ecólogo e aluno de doutorado em Zoologia pela UFPA e Museu Goeldi, Rony Almeida, ministrou sobre a diversidade de formigas encontradas no Parque. A turma visitou as parcelas permanentes, além de conferir a orquídea Vanilla pompona.
Augusto Jarthe atua no Parque desde 2012, fazendo o monitoramento e catalogação de novas espécies de repteis e anfíbios dentro do Utinga. Para a turma de doutorado, o pesquisador ministrou sobre a importância do inventário faunístico para ações de gestão e conservação da biodiversidade local. Jarthe já conseguiu identificar 126 espécies de repteis e anfíbios dentro da UC.
“Esse é um número que surpreende qualquer pesquisador. Principalmente pelo tamanho da área, que é de 1.400 hectares. Mas fundamentalmente por estar dentro de uma região metropolitana, em uma área urbana que sofre muitas interferências, mas a biodiversidade persevera”, assinala, acrescentando que a descoberta mais recente ocorreu em maio de 2018, quando foi registrada a aparição de um anfíbio da espécie rã-paradoxal.
Visitando a capital paraense pela primeira vez, o doutorando em Biodiversidade e Biotecnologia Elison Sevalho, é natural do Amazonas e trabalha com plantas e fungos. Com a descoberta da Vanilla pompona, o acadêmico sinalizou que fará estudos sobre a espécie em conjunto com o pesquisador Leandro. “Pegamos algumas partes da planta para analisar os constituintes químicos. Isso ainda não foi reportado na literatura. O pesquisador já tem a parte botânica, mas não a de fitoquímica. Fica muito interessante para a ciência reunir e publicar um artigo relevante para a sociedade acadêmica”, justifica.
Também integrante do grupo de doutorado e aluna de Biodiversidade e Biotecnologia, a engenheira agrônoma paraense Meiciane Campelo, destaca que os profissionais da área entendem a importância do conhecimento para a preservação das espécies. “Foi muito gratificante poder fazer a visita no Parque e conhecer uma espécie nova. Daí a importância do Parque ambiental, da manutenção e conservação”, reforça.