Programa da Sespa aproxima homens dos serviços de saúde
Um acidente de moto sofrido há dois anos fez o jovem Francisco Jhony, 25 anos, valorizar realmente a sua vida. Antes da fatalidade, ele só havia feito exames de saúde quando o novo emprego, em um frigorífico, no município de Jacundá, exigiu. “Minha vida era muito corrida e eu achava que nada iria acontecer comigo. Mas depois desse acidente, vou cuidar mais de mim. Quando sair daqui não vou mais ser irresponsável”, disse ele, em recuperação da sétima cirurgia na perna acidentada, no Hospital Galileu.
Há quatro anos, o funcionário público Orivaldo Amaral, 49 anos, levou um grande susto. Depois de um pico de pressão, foi orientado pelo médico a perder 25 quilos. Em quatro meses alcançou o objetivo cortando principalmente o que mais gostava de comer: frituras. Desde então, passou a fazer exames frequentes. “Nunca liguei para a saúde, achava que nada iria acontecer comigo. Minha esposa é que ficava me cobrando. Mas a partir desse susto, passei a valorizar a prevenção”, disse ele.
Orivaldo é uma exceção entre os homens, que costumam ser negligentes em relação à saúde. O sexo masculino tende a apresentar um comportamento mais arriscado, favorecendo condutas agressivas, direção perigosa de veículos e ainda o consumo de álcool, cigarros e drogas ilícitas com mais frequência do que as mulheres. Por achar que é ou precisa ser durão, o homem costuma não reconhecer suas próprias limitações e fragilidades, uma atitude cultural que acaba cobrando um preço alto. A maioria vive dando desculpas para não cuidar da saúde, negligenciando exames básicos que podem salvar uma vida.
Atualmente, a expectativa de vida da mulher brasileira é, em média, de 79 anos; já a dos homens fica em 72. No final das contas, eles estão vivendo sete anos a menos. Os homens estão perdendo a vida para a violência, os acidentes de trânsito e o descuido com a saúde. No Pará, as principais causas de morte entre homens, no ano de 2015, foram as externas, com 26% (acidentes em geral), e logo em seguida, com 22%, as doenças cardiovasculares, como infarto e AVC.
Sespa investe na prevenção
Depois do Canadá, o Brasil foi um dos primeiros países a tomar uma atitude na área da saúde masculina: em 2009, instituiu a Política Nacional de Atenção Integral à Saúde do Homem, desenvolvida pelos gestores do SUS em âmbito federal, estadual e municipal, sociedade civil organizada, pesquisadores, acadêmicos e agências de cooperação internacional. Foram instituídos cinco eixos temáticos, estratégicos para a redução efetiva das doenças e mortalidade masculinas (Acesso e acolhimento, saúde sexual e reprodutiva, paternidade e cuidado, doenças prevalentes e prevenção de violência e acidentes). Estes eixos de ação consideram não apenas os fatores biológicos, mas também as dimensões psicológica e sócio-cultural.
No Pará, a Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa) criou em 2011 a Coordenação Estadual de Saúde do Homem, que visa estimular o acesso aos serviços de saúde. “A porta de entrada do homem no serviço de saúde costuma ser a urgência, ele só vai quando passa mal. A ideia é tentar mudar essa mentalidade, é trazer o homem para perto do serviço e transformá-lo em algo mais atrativo”, disse Carlos Sales, coordenador estadual da saúde do homem.
Para chegar a esse objetivo, a Sespa vem fiscalizando e qualificando os municípios em suas redes de saúde. As qualificações vêm acontecendo a cada mês em alguma região, com os médicos, enfermeiros, psicólogos e agentes de saúde nas 13 regiões de saúde do Estado. Cada região costuma abranger de sete a 19 municípios. Durante as qualificações, são trabalhadas estratégias para atrair o homem para os postos de saúde e são distribuídos os materiais de campanha para esse fim.
Em seis anos de implantação desse trabalho de qualificação nos centros de saúde, a Sespa já verifica um avanço. “Estamos fazendo um levantamento das estatísticas da presença do homem nos centros de saúde, mas já observamos uma mudança significativa de comportamento. A dificuldade do homem procurar o serviço médico não estava ligada somente ao gênero, mas a algumas resistências culturais dos próprios profissionais de saúde e isso está diminuindo”, revela Carlos Sales.
Atendimento especializado
Além da preocupação com a prevenção, estimulando o homem a procurar os centros de saúde, o Estado ampliou seu atendimento especializado no câncer de próstata. Além do Hospital Ophir Loyola, em Belém, o Pará já oferece tratamento nos hospitais regionais de Tucuruí e Santarém. O câncer na próstata é o segundo tipo que mais afeta os homens paraenses, depois do câncer de estômago, segundo dados do Ministério da Saúde, em 2015.
Ainda como parte da Política Nacional de Atenção à Saúde Integral do Homem, a Sespa implantou, em novembro do ano passado, a campanha pré-natal do Parceiro, atendendo a um dos eixos da política nacional, que é a Paternidade Responsável. O programa tem o objetivo de fortalecer o vínculo do pai com o bebê e a mãe da criança, e também é uma oportunidade de trazer o homem para dentro do serviço. São feitas ações educativas que ensinam como proceder com a gestante durante a gravidez e o parto. Depois desse pré-natal, acontece o estímulo para que o pai continue frequentando a unidade de saúde, fazendo os check ups anuais e os exames periódicos.
O trabalho está sendo implantado dentro do programa Saúde da Família, nas unidades básicas de saúde, com uma equipe formada por médico, enfermeiro e odontólogo. O programa é reforçado pelos agentes de saúde, que buscam os futuros pais em abordagens diretas às mães durante as consultas. O pré-natal do parceiro está sendo desenvolvido em Parauapebas, Tucuruí, Breu Branco, Conceição do Araguaia, Benevides, Ananindeua e Belém. Até o final de 2017, já deve ser implantado em 50% dos municípios paraenses.
O programa é dividido nos seguintes passos:
- Trazer o homem para dentro do serviço, explicando o que é o pré-natal do parceiro e como ele pode ajudar sua companheira.
- Realização de exames como hemograma, HIV, hepatite e sífilis, que impactam diretamente no bebê
- Atualizar a carteira de vacinação. Prática pouco comum entre os homens, que, normalmente, só procuram os postos de vacinação quando são requisitados em seu novo trabalho