“Papo di Rocha” marca o início das aulas em escola pública de Marituba
Alunos da Escola Municipal de Ensino Fundamental Dona Mora Guimarães, localizada no bairro do Decouvile, em Marituba, foram recepcionados na volta às aulas, nesta quinta-feira, 12, com uma programação especial: o “Papo di Rocha” - diálogo metodológico conduzido por técnicos da Superintendência do Sistema Penitenciário do Pará (Susipe), que por meio das histórias de vida de detentos e detentas, proporciona aos estudantes uma reflexão crítica sobre o risco de envolvimento com drogas e a criminalidade.
Além do bate-papo, os alunos participaram do trabalho de revitalização da pintura externa da escola, desenvolvido por uma equipe de internos custodiados na Colônia Penal Agrícola de Santa Izabel (CPASI), que integram o projeto Conquistando a Liberdade. O serviço de revitalização antecedeu o início das aulas e foi concluído em três dias.
Em prisão domiciliar, a detenta Keryane Tolentino, 22 anos, relatou para uma turma de 82 alunos a sua experiência com a droga e o crime. Foi por influência de uma relação amorosa que ela se envolveu com o tráfico. ”Entrei nessa vida da criminalidade por conta do meu ex-marido, que era traficante. Depois que ele foi preso, continuei vendendo drogas para ajudá-lo a sair da cadeia. Estava apaixonada e não pensei nas conseqüências. Quando aceitei transportar uma quantidade de droga para Belém, a Polícia Federal me abordou no aeroporto. Fiquei presa durante dois anos e sete meses”, contou.
Os alunos acompanharam atentos os relatos. “É interessante ouvir esses depoimentos porque estamos diante não de uma história, uma ficção, mas da realidade de vidas prejudicadas por uma escolha errada. Eles falaram abertamente sobre todas as consequências que esperam por aqueles que, como eles, decidiram seguir esse caminho. E ainda nos beneficiaram com esse trabalho, que deixou a escola de cara nova. O espaço ficou mais acolhedor com o novo visual. Vamos conservar para que permaneça bonito”, disse a estudante Thassya da Silva, 14 anos.
A diretora da escola, Wania Moutinho, destacou que trazer o projeto é uma conquista importante para a comunidade escolar, que esta inserida em uma área de elevado índice de criminalidade. “Já tivemos problemas com alunos envolvidos com a venda de drogas dentro da escola. Os estudantes têm a oportunidade de ouvir histórias reais, que mostram que o caminho da criminalidade não compensa. Além disso, não dispúnhamos de mão de obra para realizar essa pintura. Chegamos a fazer um orçamento, mas o valor que cobraram foi muito alto. Com essa colaboração que eles nos deram, somada à ajuda dos voluntários, economizamos cerca de R$ 8 mil”, constatou.
O coordenador do Conquistado a Liberdade, Ercio Teixeira, apontou que mais de 50% dos homicídios têm ligação direta com o tráfico de drogas, envolvendo, na maioria, jovens na faixa de 15 e 25 anos, com baixa escolaridade e moradores de periferias. “Esses dados refletem a triste realidade do mundo do crime e das drogas. Diante desse cenário preocupante, buscamos, com o diálogo do ‘Papo di Rocha’, sensibilizar e informar os jovens sobre os efeitos nocivos das drogas e desenvolver neles um senso crítico, que os tornem capazes de dizer não ao chamado da criminalidade”, explicou.
O projeto Conquistando a Liberdade não oferece remuneração. O preso recebe o beneficio da remição de um dia de pena, a cada três dias trabalhados, direito este previsto na Lei de Execução Penal (LEP). Todos os internos que participam passam por uma avaliação psicossocial e por um treinamento. Desenvolvida em 18 municípios do Pará, a iniciativa é reconhecida pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ) como referência no País na área de reintegração social de pessoas presa e recebeu menção honrosa na categoria “Juiz”, do Prêmio Innovare, no ano de 2013.
A próxima edição do projeto será no dia 19 de fevereiro, na Escola Estadual de Ensino Fundamental Dr. Carlos Guimarães, no bairro da Marambaia, em Belém, e no dia 23 de fevereiro, no município de Capanema.
