Unidade Materno-Infantil da Susipe garante a internas o direito de ser mãe
Há quem diga que não existe sentimento mais singular do que o amor de mãe, mas isso somente elas podem explicar. A ligação e a dependência de um pequeno ser vivo que cresce dentro do ventre são capazes de fazer brotar uma nova mulher que, às vezes, nem ela sabia que poderia ser. Esse universo de sentimentos à flor da pele, cuidado e descobertas faz parte do cotidiano das mulheres que, presas, cumprem pena na Unidade Materno-Infantil (UMI) da Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado (Susipe).
É em um local amplo, com ar de casa, localizado em Ananindeua, Região Metropolitana de Belém, que atualmente sete mulheres estão custodiadas. Para elas, foi organizada uma programação especial em comemoração ao Dia das Mães. Com palestras, atividades lúdicas, rodas de canto, brincadeiras e momentos de reflexão espiritual, as internas receberam orientações sobre o cuidado com os bebês e puderam se aproximar ainda mais dos filhos.
A proposta para o evento partiu da direção do Centro de Recuperação Feminino (CRF) e da supervisão da UMI, e teve o apoio do Núcleo de Teoria e Pesquisa do Comportamento da Universidade Federal do Pará (UFPA). “Sempre que possível comemoramos as das datas especiais com atividades diferentes para as internas. Para isso, contamos com os nossos parceiros, que sempre nos dão apoio em diversos momentos”, explica a responsável pela UMI, Danusa Azevedo.
Durante uma roda de conversa, as internas puderam tirar dúvidas sobre amamentação e prevenção do câncer de mama. “É importante que essas mulheres tenham a oportunidade de conhecer novas informações que vão além do que elas já têm pelo senso comum. O contato com profissionais, independente do local em que elas estejam, é primordial”, disse a nutricionista Pilar Moraes.
Assistência – Duas grávidas com mais de seis meses de gestação já se preparam para a chegada dos filhos. Cinco mães lactantes vivem a rotina de cuidados que todo bebê com poucos meses de idade exige. Na UMI, mães e filhos recebem, semanalmente, a visita de pediatras, assistentes sociais, nutricionista e psicólogos e contam ainda com uma equipe de enfermagem 24 horas por dia, para urgências e emergências.
Edileusa Santos está custodiada na UMI desde o fim da gestação do filho, que hoje já está com 9 meses. Edileusa já é mãe de oito filhos, e somente na UMI pode cuidar, em tempo integral, do bebê. “Sempre trabalhei como diarista em casa de família. Quando saía para trabalhar, meus filhos mais velhos cuidavam dos mais novos”, conta a interna, cuja família mora em Xinguara, no sul do Pará.
Pela distância e falta de recursos, Edileusa não recebe a visita de nenhum dos filhos. O ex-marido é quem cuida deles. Com o filho caçula crescendo, ela já sente a dor antecipada de ter que se despedir do pequeno, que pode permanecer na UMI até completar 1 ano de idade. “Aqui, com todo apoio dos profissionais e servidores, conseguimos fazer com que algumas dessas mulheres entendam a importância que elas têm na vida desses bebês, e isso é o mais importante”, conta Danusa Azevedo.
Pioneirismo – Com 14 leitos, a Unidade Materno-Infantil da Susipe é a primeira do Norte do Brasil destinada ao acolhimento de internas grávidas, oferecendo atendimento multidisciplinar na área de saúde desde o pré-natal e garantindo o período de aleitamento materno.
Inaugurada em 2013, a unidade é resultado de convênio firmado entre a Susipe e o Departamento Penitenciário Nacional (Depen). As internas têm o direito de convívio garantido pelo Estado até o bebê completar 1 ano de vida. “Estamos conseguindo possibilitar melhores condições para os bebês das internas grávidas. Aqui as mães fazem todo o acompanhamento pré-natal necessário e podem ficar com as crianças durante o período de amamentação e desenvolvimento nos primeiros meses de vida. Elas têm assistência médica integral formada por uma equipe multidisciplinar de ginecologistas, pediatras, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, nutricionistas e odontólogos. A Susipe garante uma ambulância 24 horas para qualquer emergência”, detalha o titular da Susipe, André Cunha.
A humanização do tratamento destinado às mulheres e bebês na UMI chamou a atenção do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) pela singularidade do Pará em relação aos outros Estados brasileiros. Para a coordenadora do Programa de Sobrevivência e Desenvolvimento Infantil do Unicef, Cristina Albuquerque, a postura adotada pelo Pará deve ser exemplo em todo o Brasil. “Um dos nossos objetivos é mostrar boas práticas e chamar a atenção para populações que ainda não têm seus direitos garantidos. Essa prática da Susipe não é uma realidade no Brasil. Essa experiência do Pará precisa e deve ser documentada e divulgada para outros lugares”, afirma.
A proximidade entre mães privadas de liberdade e os bebês é garantida pela Lei de Execução Penal. “Mais que uma oportunidade, a Susipe garante o direito dessas mães e de seus bebês. Está provado que um dos melhores mecanismos para o desenvolvimento infantil é o contato direto com a mãe, o contato de pele. Essa iniciativa é louvável e deve ser seguida pelo Brasil afora”, diz o coordenador de Trabalho do Unicef na Amazônia Legal, Unai Sacona.