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Cursinho intensivo do Pro Paz prepara detentos para provas do Enem Prisional

Por Redação - Agência PA (SECOM)
17/11/2015 16h08

Essa é a primeira vez que o interno José Santos, de 26 anos, vai prestar vestibular para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) para Pessoas Privadas de Liberdade (PPL). Foi dentro do Centro de Recuperação do Coqueiro (CRC) que ele completou o ensino fundamental e agora finaliza o ensino médio. Para se preparar para a prova, o detento participa dos aulões intensivos. A ação é uma realização do Governo do Estado, por meio da Fundação Pro Paz, Secretaria de Educação do Pará (Seduc) e Superintendência do Sistema Penitenciário do Estado do Pará (Susipe).

“Eu morava no interior, no município de Portel, e nunca achei que conseguiria dar continuidade aos meus estudos. Só quando entrei no cárcere, foi que a educação veio dar outro sentido para a minha vida. Aproveitei a oportunidade de voltar a estudar aqui dentro e não parei mais. O meu sonho agora é concluir o ensino médio e no futuro ser professor de história. Minha expectativa para essa prova é a melhor possível. Com todo o apoio dos professores e a minha dedicação eu confio que irei passar”, assegurou o interno.

O Pro Paz Enem percorre o Pará com caravanas de professores para preparar alunos para o exame. Esta é primeira vez que a iniciativa ocorre dentro de casas penais.

“Percorremos seis municípios com a caravana do Pro Paz Enem. Foram 15 aulas que beneficiaram cerca de 12 mil alunos. Agora, estamos trazendo este projeto em parceria com o sistema penitenciário para beneficiar também estas pessoas que estão privadas de liberdade. Esperamos que através dele possamos contribuir significativamente para a mudança e melhoria de suas vidas”, explica Monica Altman, coordenadora do Pro Paz Escola.

“A Susipe, através da Divisão de Educação Prisional (DEP), foi atrás dessa parceria, devido a importância de uma boa preparação para realizar o Enem. O objetivo era trazer para dentro das casas penais a qualidade de ensino do Pro Paz Enem. Um material de primeira qualidade que possibilita os presos terem os mesmos recursos do aluno que fez o Enem tradicional”, explicou a gerente do DEP, Aline Mesquita.

Ao todo, 100 detentos serão beneficiados com as aulas preparatórias, sendo 33 internos do Centro de Recuperação do Coqueiro (CRC), 38 internas do Centro de Recuperação Feminino (CRF) e 29 detentos que cumprem o semiaberto ou são presos de monitoramento eletrônico, que dão seguimento aos estudos pela Fábrica Esperança. Para serem classificados na prova, os internos devem obter a pontuação mínima de 450 na prova objetiva e 500 pontos na redação.

Desde ontem, 16, até o dia 27 de novembro, os custodiados poderão tirar dúvidas e fazer a última revisão antes do exame. “O intensivão aqui será realizado com o mesmo empenho e com a mesma garra com que é feito lá fora. E a perspectiva sob eles é muito boa, primeiro porque há uma prova voltada somente para eles, que é o Enem prisional. Segundo porque vemos neles uma vontade muito grande de estudar e querer passar, isso é fundamental. Às vezes vemos aqui dentro a vontade que não tem fora do cárcere”, avaliou o coordenador do Pro Paz Enem, Anderson Costa.

Para continuar os estudos durante e após as aulas os internos receberam materiais paradidáticos de Ciências Humanas; que contam com as matérias de história, geografia, filosofia e sociologia; Ciências da Natureza, que traz as disciplinas de biologia, física e química; um material exclusivo de matemática e, ainda, um material de linguagem e seus códigos, para ajudar na preparação para a redação.

No CRF, onde as aulas também já começaram, a interna Rude Reis leva a preparação como uma grande oportunidade. “Essa já é a terceira vez que tento o Enem. Na primeira vez eu não passei, na segunda eu fui aprovada, mas não obtive a pontuação necessária para o curso que queria e agora estou muito confiante, porque com esse cursinho eu posso revisar o que já esqueci. Eu não irei desistir até alcançar o meu objetivo, que é me formar em Ciências Contábeis. Quero ser um exemplo para as minha filhas, mostrar que só o estudo pode levar a gente a algum lugar”, relatou Rude.

Educação - Neste ano, a Susipe atingiu 803 inscritos no Enem PPL, 54 alunos a mais do que no último ano. Também aumentou o número de unidades prisionais envolvidas com o exame, que passou de 31, para 39 casas penais em projetos educacionais. No ano passado, 36 internos foram aprovados para o Enem PPL.

Além dos cursos preparatórios para o Enem, a Susipe conta com outros projetos voltados para a educação prisional, como Pronatec, o projeto Remissão de Pena por Leitura e a Educação para Jovens e Adultos (EJA). Quem faz o exame pode receber remição da pena: aquele que tiver aprovação tem direito a 800 horas de remição, ou seja, 133 dias, de acordo com a recomendação aprovada pelo Conselho Nacional de Justiça (CNJ).

Aulão inaugural - Ocorreu na segunda-feira, 16, o “aulão” inaugural do Pro Paz Enem PPL, no auditório da Susipe. A prova do Enem PPL acontecerá nos dias 1º e 2 de dezembro de 2015. Os aulões de revisão estão sendo realizados em três locais: no Centro de Recuperação Feminino (CRF), em Ananindeua; no auditório da Susipe e no Centro de Recuperação do Coqueiro (CRC), em Belém. Serão 20 horas de aulas com 12 professores que abrangerão todas as cinco competências da prova do Enem.

Para Hilmo Andrade, coordenador geral penitenciário da Susipe, a parceria vem para agregar nos projetos de ressocialização já realizados pela instituição. “Trazer para estas pessoas a oportunidade de reintrodução dentro da sociedade através dos estudos, oferecendo para eles a opção de cursar uma faculdade ou ainda conseguir uma diminuição de sua pena por meio do Enem, mostrando que este é o caminho certo para se seguir. Este trabalho mostra que a Susipe, mais do que preocupada com a situação carcerária se preocupa também em reintroduzir estas pessoas na sociedade”, afirma.

Jailson Lopes, 28 anos, atualmente responde em liberdade condicional após seis anos em regime carcerário. Ele afirma que pretende passar em um curso superior para seguir sua vida e recuperar o tempo perdido. “Devido à situação que nos encontramos ficamos muito tempo parados no estudo, então este projeto é uma oportunidade muito boa que não podemos deixar escapar. Fico feliz, pois pretendo recuperar agora, através dos estudos, o tempo que perdi. Meu filho é quem mais me incentiva nos estudos”, afirmou.

Professor de biologia do projeto, André Leite ministrou a primeira aula nesta segunda-feira. “Queremos trazer para estas pessoas novas oportunidades de vida para que eles possam conseguir, através dos estudos, entrar em um processo de reintrodução dentro da sociedade  e tenham a possibilidade de conseguir o que todos almejam, que é passar em um curso superior. Para mim é muito importante poder estar aqui, contribuindo de forma significativa nesta história e neste trabalho”, diz.

(Com informações de Mayara Albuquerque – Fundação Pro Paz)