Pará integrará coordenação de pesquisa para prevenção à violência nas escolas
Nesta terça-feira, 28, quando é comemorado o Dia Mundial da Educação, técnicos e professores de 24 escolas públicas paraenses iniciaram, na Escola de Governança do Pará (EGPA), o curso de capacitação para integrarem o Programa de Diagnóstico e Planejamento Participativo de Prevenção à Violência Nacional, em parceria com a Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso), por meio da Secretaria Extraordinária de Integração de Políticas Sociais (Seips), Secretaria de Educação (Seduc) e Fundação Pro Paz.
A faculdade, reconhecida internacionalmente por desenvolver atividades de pesquisa e formação nas áreas de educação, direitos humanos, saúde, juventude e violência, também conta com a experiência da Organização dos Estados Ibero-americanos para a Educação, a Ciência e a Cultura (OEI) e o Ministério da Educação (MEC). Com o apoio do governo do Estado, os educadores paraenses terão como missão mobilizar e sensibilizar as escolas visando grupos de jovens para um processo de diagnóstico participativo em cada entidade escolhida.
Além disso, uma turma de cada escola será selecionada para a aplicação de questionário para que se desenhe um parâmetro dos sentimentos dos alunos em relação às violências a que são submetidos no dia a dia. Com a concretização deste diagnóstico, o Governo do Pará pretende realizar uma construção coletiva de alternativas para a prevenção e enfrentamento à violência.
A capacitação, que segue até quinta-feira, 30, está sendo ministrada pela socióloga e pesquisadora Miriam Abramovay, coordenadora da Área de Juventude e Políticas Públicas da Flacso. Participam educadores e gestores de ensino fundamental e médio de escolas como a Presidente Castelo Branco, Professora Esther Bandeira Gomes (parceira do Pro Paz Escola), Salesiana do Trabalho, Frei Daniel, Dr. Justo Chermont, Domingos Acatauassu Nunes, Ulysses Guimarães, Mário Barbosa, Barão de Igarapé-Miri e Presidente Costa e Silva, entre outras.
Mudança – Segundo a pesquisadora, o programa será inovador no Estado. “É fundamental, pois já trabalho com o público de Belém há anos, desde as primeiras pesquisas da Unesco (Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura), iniciadas em parcerias com universidades e poder público. A gente já tem uma parceria histórica com Belém e porque aqui nós temos os projetos do Pro Paz, que já avançou com seus trabalhos de prevenção à violência nas escolas”, explica.
A socióloga destaca que a proposta é desenvolver no Pará um programa de mudança nas escolas. “Um dos grandes desafios nas comunidades escolares é que os jovens são transparentes e é a partir daí que queremos mostrar que eles têm um papel mais importante de mudança nas escolas enquanto comunidade. Precisamos ouvir essa juventude que tem tantas coisas pra dizer e experiências a dividir. É um programa preventivo, mas também de fortalecimento das escolas, quando professores, diretores, alunos e pais possam ter um tipo de diálogo conjunto, inclusive com as escolas atendidas pelo Pro Paz. É uma experiência inovadora, pois mexe muito com a escola, já que ele aproxima muito o jovem da sua escola”, reiterou.
Ainda segundo a Flacso, o objetivo da pesquisa é “implantar e avaliar, de forma experimental, a violência no Estado, tendo como eixo estruturante a participação de jovens de 15 a 29 anos no diagnóstico, na construção e na negociação política das estratégias contra a violência, tomando como ponto de partida os enunciados básicos do Estatuto da Juventude (Lei nº 12.852, de 5 de agosto de 2013) não só nos objetivos, mas também as metodologias”. A proposta de atuação no Brasil é capacitar 800 jovens, 50 mediadores e sete coordenações, distribuídas nos Estados de Alagoas, Ceará, Bahia, Paraíba, Pará, Pernambuco e Rio de Janeiro.
O trabalho se baseia em expressões e consequências das diversas formas de violência, em particular as que atingem a juventude e a escola enquanto instituição básica de socialização e convívio e deve fomentar o sentimento de integração e parceria aluno/ escola. No total, a pesquisa de campo desenvolvida nos Estados envolverá mais de dez mil jovens, distribuídos em 196 unidades escolares de 28 municípios, selecionados de acordo com as taxas de homicídio juvenil acima da média estadual e conurbação ou proximidade em termos de malha urbana para facilitar a supervisão do trabalho e as trocas de experiências.
Avanço – Para a assessora técnica da Seips, Clarice Pinto, essa é mais uma ação de governo para que as ações e pesquisas construídas para as escolas cheguem, de fato, a elas. “Nosso principal papel enquanto governo foi articular e mobilizar essas escolas para que hoje tivéssemos esse momento com a professora Mirian, que tem toda uma bagagem, um conteúdo sobre a violência nas escolas, para que possamos discutir juntos, buscar novos caminhos e compartilhar pensamentos com o objetivo de impactar as escolas por meio da Cultura de Paz”, detalhou.
O gestor Luiz Otávio Santos, da Unidade Seduc na Escola 10 (USE-10), que atende aos bairros do Tapanã, Bengui, Parque Verde, Tapajós e Canarinho, a capacitação representa um avanço na educação do Pará, pois é embasada em pesquisas que servirão como norte para projetos futuros. “Uma das escolas que dirigimos é a Cidade de Emaús, onde o Pro Paz tem feito um trabalho constante para que possamos garantir a inserção da Cultura de Paz como prática do nosso cotidiano escolar. Com essa qualificação pela Cultura de Paz, a classe educacional, a comunidade e o povo do Pará só têm a ganhar”, observou.
A Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais (Flacso) é um organismo internacional, autônomo e de natureza intergovernamental, fundado em 1957 pelos Estados Latino-Americanos que acolheram uma recomendação da XI Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco). Atualmente, é composta por 19 Estados-membros que desenvolvem atividades acadêmicas, pesquisas e modalidades de cooperação em 14 países da América Latina e do Caribe, além da Espanha, conforme deliberação da última reunião da Assembleia Geral da entidade, em maio de 2014, na Guatemala.
Todas essas unidades compõem a Rede Flacso. No Brasil, com sede na cidade do Rio de Janeiro e uma unidade na capital paulistana, a Flacso desenvolve atividades de pesquisa e de formação nas áreas de educação, direitos humanos, saúde, juventude, violência.