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Espaços socioeducativos incentivam o fortalecimento de vínculos familiares

Por Redação - Agência PA (SECOM)
09/08/2015 15h43

Os vínculos familiares dos adolescentes que cumprem medidas socioeducativas na Fundação de Atendimento Socioeducativo do Pará (Fasepa) são marcados em boa parte, pela ausência da figura paterna e conflitos nas relações afetivas originados do abandono e da violência doméstica. Por conta desta realidade, as comemorações pelo Dia dos Pais nas unidades socioeducativas da Região Metropolitana de Belém buscaram exatamente resgatar e fortalecer esses laços afetivos familiares.

No Centro de Internação do Adolescente Masculino (Ciam) e no Centro de Atendimento de Semiliberdade Feminino (Casf), a programação foi marcada por muita emoção. Os pais dos socioeducandos que cumprem medidas de internação provisória participaram das atividades ao lado dos filhos.

O soldador Antônio, de 42 anos, tem um filho de 15 e um enteado de 17 anos internados pela primeira vez em uma unidade da Fasepa. Para ele, seria bem difícil passar o Dia dos Pais sem os dois por perto, por isso decidiu abrir mão do trabalho na sexta para acompanhar os dois na programação e voltar na visitação deste domingo, 9, para mostrar que sempre terão uma família os aguardando lá fora e os apoiando em qualquer circunstância.

Os dois adolescentes foram vítimas de uma tentativa de assalto e acabaram reagindo, o que resultou na morte do ladrão. Diante disso, os irmãos foram encaminhados para a internação provisória enquanto aguardam sentença do juizado. “Não é nada fácil ver seus filhos presos, já que todos estavam bem e, de repente, veio a surpresa. Foi um choque pra todo mundo. Mesmo sendo a primeira vez, nada justifica o que aconteceu, e tudo por causa de uma bicicleta”, lamentou o pai. “Não é bom ver eles assim. Nenhum pai quer ver um filho seu nesta situação, mas todo domingo eu participo da visita e faço de tudo para mostrar que eles precisam seguir outra vida", ressalta.

Para o adolescente Rodrigo, de 15 anos, a passagem pela unidade de internação tem sido difícil. Ele sempre se emociona quando recebe a visita do pai na programação especial realizada pelo Ciam Apesar de estar cumprindo medida socioeducativa, ele reconhece os erros cometidos e busca no pai a força para seguir uma nova vida. “Sempre choro quando o meu pai vem aqui. É difícil, mas eu tento confortar ele e já disse que quando sair daqui vou voltar a estudar e seguir o caminho certo”, diz.

Ausência - O  Centro de Atendimento de Semiliberdade Feminino (CASF), localizado em Icoaraci, hoje atende apenas seis adolescentes, mas assim mesmo assim a direção da unidade fez questão de realizar uma programação alusiva ao Dia dos Pais. 

Contudo, nenhum deles compareceu ao encontro e a frustração diante dessa ausência era visível nos olhos das adolescentes, que procuraram dispersar a tristeza e buscar conforto umas nas outras. O fato de partilharem a mesma realidade familiar e social cria entre elas um vínculo de afinidade que ajuda a minimizar a sensação de abandono.

“Eu não tive convivência com o meu pai porque quem cuidou de mim foi a minha avó. Eu não sei quase nada da vida dele, apenas que foi preso por tráfico de drogas e que recentemente saiu da cadeia. Às vezes eu queria que ele tivesse ao meu lado, mas ao mesmo tempo não sei se isso seria bom pra mim. Ele nunca me deu atenção ou carinho e nunca se esforçou para se aproximar de mim. Essa data mexe comigo porque eu nunca tive um pai presente, mas eu sinto mais quando é o Dia das Mães”, relatou a jovem Gabriele, 16 anos, e que está há oito meses na medida socioeducativa de semiliberdade do Casf.

A assistente social da unidade, Jhuly Oliveira, revela que esta referência de responsabilidade centrada na figura da mulher se dá pelo fato de que muitos adolescentes verbalizam que sofrem ou já sofreram algum tipo de violência pelo pai, ou mesmo pelo atual companheiro das mães. Ela assegura ainda que mais de 90% do acompanhamento familiar durante este processo socioeducativo é baseado na representatividade feminina.

“Ao longo de um ano, que é o período em que eu estou atuando neste espaço, recordo apenas de dois pais que eram efetivamente presentes nesse processo socioeducativo. Nós buscamos alternativas técnicas que nos auxiliem na mudança de concepção destes homens, para que se tornem mais presentes na vida de suas filhas”, ressaltou Jhuly.

A única representante familiar que compareceu a programação do CASF foi a dona de Casa Ana, de 42 anos, mãe de uma adolescente que cumnpre medida socioeducativa há oito meses. Ela diz que sempre exerceu o papel duplo (de pai e mãe) na educação da filha. “Sempre procurei me desdobrar para cumprir essa dupla jornada. Eu gostaria que o pai fosse amigo dela, desses bons conselhos e orientasse a nossa filha. Espero que um dia ele venha se reconciliar com ela, até porque ela sente muita falta dele”, revelou a mãe, emocionada.