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AGRICULTURA E PESCA

Emater incentiva produção sustentável de mel a partir de resgate de abelhas em Breves

No Marajó, equipe resgata colmeias que se desenvolvem espontaneamente e assustam os moradores, e as instala em projetos de apicultura na área rural

Por Ascom (Ascom)
04/04/2024 11h52

Em Breves, no Marajó, o escritório local da Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural do Estado do Pará (Emater) resgata colmeias que se desenvolvem espontaneamente dentro de residências das zonas urbanas, assustando os moradores, e as instala em projetos de apicultura em propriedades rurais, com foco em produção artesanal de mel.  

Acionada pelo Corpo dos Bombeiros, a equipe da Emater no município realiza cerca de 50 resgates por ano, em média. Conforme registro dos extensionistas, a incidência de abelhas com ferrão (apis mellifera) em locais indevidos de Breves é comum por conta da tradição de construções em madeira, material que atrai o instinto animal de alojamento. 

Por meio do processo de captura, a Emater ajuda a preservar tanto a vida das abelhas, fundamentais para fenômenos ecossistêmicos tais quais polinização, quanto a vida das pessoas, que podem sofrer reações alérgicas gravíssimas caso ferradas. 

Diante de uma colmeia,  a população leiga sente medo e acaba procurando se proteger com medidas drásticas, a exemplo de atear fogo ou borrifar inseticidas. Além de destruírem a preciosidade ecológica de cada colméia, colônia e enxame, fogo e inseticida provocam os ataques fatais aos seres humanos, posto que as abelhas tentam se defender. 

Segurança

Retirar e transportar uma colmeia não é um procedimento simples; pelo contrário: exige práticas e conhecimentos profundos.  O método obedece a requisitos rigorosos de segurança.

De acordo com o responsável da Emater pela apicultura em Breves, o engenheiro agrônomo Afonso Queiroz Júnior, pós-graduado em Agroecologia e Desenvolvimento Rural Sustentável, depois de capturada, a colmeia só é levada para a nova acomodação durante a madrugada, para se garantir ali a  presença das abelhas-campeiras, as quais saem à cata de alimentos durante o dia, guiadas pelo sol.

Sem esse cálculo de tempo por parte dos especialistas da Instituição, as operárias se perderiam quando fossem voltar para a colmeia de origem, devido à mudança de ponto de partida. 

“As abelhas funcionam sob uma organização e uma lógica impressionantes, além de significarem habilidades diferenciadas, como autolocalizadores precisos de voo e intercomunicação sofisticada para indicar floradas. São bichos sensíveis, inteligentes e, para a surpresa de muitos, bastante dóceis. Só representam perigo aos seres humanos se forem agredidas e se a casa delas for agredida, até porque, ao injetar o ferrão, elas também morrem, pelo impacto abdominal”, explica.

O profissional relata, ainda, que, quando nos terrenos dos produtores de mel, as abelhas se tornam parte serena da rotina. No dia a dia, as abelhas-campeiras, responsáveis pela busca de alimentos, costumam voar distâncias de até dois quilômetros, o que lhes permite também visitar a residência da família do produtor, sem representar riscos. 

“Os apiários ficam posicionados pelo menos de 100 a 200m e os produtores não entram lá sem EPI [equipamentos de proteção individual]. Já as abelhas que voam para longe, as abelhas-campeiras, elas circulam sem problema algum, até pousam e andam em cima da gente. Elas são demais dóceis, justamente porque estão fora da casa delas. Digo assim: é igual a qualquer pessoa; se alguém tenta invadir a casa, a pessoa defende. A abelha faz a mesma coisa. A título de informação, as abelhas são tão organizadas que jamais acumulam funções: fora a abelha-rainha, a primeira função da vida das operárias é de limpeza, após elas viram cuidadoras das irmãs, e então passam a ser guardas, ficam em frente das caixas defendendo. Esse seria o auge da ferocidade. Por fim, são alçadas à condição de ‘campeiras’”, detalha. 

Apicultores

Na atualidade, a Emater atende de forma direta 15 apicultores de Breves. São moradores de quatro comunidades na extensão da rodovia PA-159 (rodovia Breves-Anajás): Nazaré, Vicinal Zero, São Tomé e Tucano-Açu.

Há cerca de  quatro anos, as famílias, que antes se concentravam no plantio de hortaliças e de frutas, começaram a aderir à proposta-piloto da Emater para diversificar atividades nas propriedades, a  fim de geração adicional de renda e segurança alimentar. 

Cada apicultor mantém de dez a 15 caixas e cada caixa fornece de 15 a 20 quilos de mel ao ano.  Os apicultores embalam em processo artesanal e vendem de imediato a produção inteira, no mercado local, sem atravessadores, em uma margem de lucro que chega a ultrapassar 100%. 

A estratégia da Emater é de criação racional, com orientações como manejo de colmeia, revisão de caixa, divisão de enxame e suplementação nutricional com calda de açúcar, nos períodos de inverno rigoroso. 

Um dos desafios do acompanhamento da cadeia produtiva é incorporar à mentalidade dos próprios apicultores o consumo do mel como alimento, substituto do açúcar refinado, e não apenas como fitoterápico. 

“Eu, em particular, vou meio na diferença, haja vista que adoro mel e como até no lugar de manteiga: passo no pão. Em açaí, não uso açúcar. É mel em tudo”, conta o apicultor Sérgio Mocelin, de 53 anos, atendido pela Emater desde 2006.

Presidente do Sindicato dos Produtores Rurais de Breves (SPR-Breves), o principal investimento de Mocelin no Sítio Marajoara, uma área de 125 hectares no km 20 da PA-159, é piscicultura semiextensiva, com espécies redondas (tambaqui e tambacu, por exemplo) em tanque-escavados. São 28 tanques, que resultam em 160 toneladas de peixe por ano.

A produção de mel surgiu como uma inovação apropriada, a princípio com duas caixas. Cada melgueira de lá alcança até 40 quilos de mel por ano. 

O produtor se considera entusiasmado: “Inclusive na visão do Sindicato, é uma atividade com extremo potencial e um grande cenário de empreendedorismo. Pensamos na merenda escolar, em reflorestamento, em segurança alimentar. O Marajó precisa dessas políticas públicas contextualizadas na realidade única da região. A Emater é uma incentivadora ímpar e participa com maestria da condução deste trabalho conjunto e desta união de esforços”, conceitua. 

Em parceria com a Emater, o Sindicato vem atuando na divulgação da produção de mel, com iniciativas como a promoção de cursos. 

Texto de Aline Dantas de Miranda