Pará tem a maior produtividade de cacau no mundo e celebra força da cadeia sustentável
Com destaque para o cultivo em sistema agroflorestal, Estado ultrapassa médias nacionais e internacionais e promove feira para valorizar a produção local
O Pará segue na liderança de referência mundial na produção de cacau cultivado em sistema agroflorestal (SAF). O Estado não apenas se consolida como o maior produtor do Brasil, como também ostenta a maior média de produtividade por hectare do mundo, segundo dados do relatório anual de previsão de safra elaborado em parceria pela Comissão Executiva do Plano da Lavoura Cacaueira (Ceplac) e a Secretaria de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap). O documento completo pode ser acessado no site da secretaria.
Atualmente, a produtividade paraense alcança 847 kg por hectare, superando tanto a média nacional, de 483 kg/ha, quanto a do continente africano, maior produtor global, com média de 500 kg/ha. No município de Medicilândia, no sudoeste do Estado, esse número é ainda mais impressionante: 1.190 kg/ha, tornando o município o maior produtor de amêndoas de cacau do país.
Localizado na Região de Integração do Xingu, Medicilândia é reconhecido pelo solo fértil — a chamada "terra roxa" — e pelo cultivo que margeia a BR-230 (Transamazônica), eixo geográfico da maior produção de cacau em solo paraense. O sucesso da região se deve, na maioria, à adoção do SAF, que alia produção agrícola à recuperação ambiental.
Conforme o engenheiro agrônomo Ivaldo Santana, coordenador do Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva do Cacau (Procacau), o diferencial paraense vai além dos números. "A nossa média está lá em cima quando comparada a outros estados e países produtores. Isso é ótimo para o produtor, pois significa produzir mais em uma área menor", explicou.
Para efeito de comparação, a Bahia, que até 2016 liderava a produção nacional, utiliza 425 mil hectares para cultivar cacau. O Pará, com 169.655 hectares plantados, atinge resultados muito superiores em produtividade.
Iniciativas do Governo valorizam a cacauicultura
O Governo do Pará, por meio de suas agências especializadas, vem adotando uma série de iniciativas para impulsionar o setor agropecuário, com ênfase na valorização da cacauicultura. Entre as principais frentes estão vigilâncias em propriedades rurais, campanhas de educação sanitária, fiscalização do trânsito agropecuário e ações sistemáticas de prevenção e controle de pragas e doenças, conduzidas pela Agência de Defesa Agropecuária do Estado do Pará (Adepará).
Além disso, o Estado atua ativamente em projetos voltados à internacionalização das amêndoas de cacau paraense, assim como no mapeamento e monitoramento das áreas agricultáveis, por meio da Secretaria de Estado de Desenvolvimento Agropecuário e da Pesca (Sedap), que utiliza tecnologias de sensoriamento remoto com imagens de alta resolução.
A Sedap também reforça seu apoio à cadeia produtiva por meio do Programa de Desenvolvimento da Cadeia Produtiva da Cacauicultura no Pará (Procacau), com o repasse de recursos a instituições que oferecem assistência técnica, produção de sementes híbridas e suporte direto aos agricultores. A estratégia fortalece a base produtiva e assegura a sustentabilidade e competitividade do cacau paraense no mercado global.
Em 2025, a Adepará lançou o projeto "Proteção e fortalecimento da cacauicultura paraense, prevenção e combate à Monilíase nas divisas do Estado", aprovado pelo Conselho Gestor do Fundo de Apoio à Cacauicultura do Estado do Pará (Funcacau). A iniciativa prevê capacitações e medidas preventivas contra a monilíase, uma das mais severas ameaças à produção de cacau.
Recuperação ambiental com retorno econômico
Outro destaque da produção cacaueira no Pará é o seu papel na recuperação de áreas degradadas. Somente nos últimos 17 anos, o sistema agroflorestal com cacau permitiu a recuperação de 229 mil hectares. Por ser uma cultura que se desenvolve sob sombra, o cacau é ideal para reflorestar áreas antropizadas, como ressalta Santana.
Um exemplo dessa preservação com a utilização do cacau pode ser visto no município do Acará, onde um grupo de mulheres denominado de “Guardiãs da Floresta” se uniu para gerar renda e proteger a floresta. Diana Gemaque, membro das “Guardiãs do Cacau", iniciativa que reúne, há três anos um grupo de mulheres ribeirinhas da comunidade Acará-Açu, trabalha com cacau nativo e como o próprio nome do grupo já evidencia, o trabalho é focado em aliar a preservação da floresta com a geração de renda, por meio do incentivo a atividades como a fabricação de chocolate e também artesanato utilizando matéria prima da floresta.
“Nós estamos incentivando não só mulheres como outros jovens a trabalhar com cacau nativo, aquele da região de várzea. É um grupo que ajuda a desenvolver outros trabalhos na comunidade. A gente pega esse cacau lá da natureza, faz todo o processo de fermentação até chegar o chocolate”, detalha.
Um exemplo de valorização do cacau que vem do sistema agroflorestal é do produtor Francisco Sakaguchi, que há 50 anos cultiva cacau em Tomé-Açu (nordeste do Pará). O fruto é oriundo do sistema próprio criado no município conhecido como “Safta” (Sistema Florestal de Tomé-Açu). O agricultor relembra que o trabalho é resultado da herança deixada pelo pai, Noboru Sakaguchi, que no início da imigração japonesa apostou no cacau.
Francisco lembra que o cacau fez parte do conjunto de projetos da imigração japonesa. Visto com resistência no início, por conta dos agricultores não terem conhecimento das tecnologias voltadas ao cacau, a cultura acabou proliferando mesmo a partir da década de 70, após a dizimação das plantações de pimenta do reino por conta da fusariose.
“Meu pai acreditou e graças ao cacau pagou todas as dívidas dele e a gente conseguiu dar a volta por cima; a gente vive e sobrevive do cacau. Foi uma herança deixada por ele”, relembra Sakaguchi.