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Número de transplantes renais aumenta no Ophir Loyola após impacto do coronavírus

Pacientes esperam de três a cinco anos por um rim por falta de doação

Por Leila Cruz (HOL)
14/12/2021 10h03

O número de transplantes de rim cresceu 66% em relação ao ano passado no Hospital Ophir Loyola, localizado em Belém, em razão da adequação aos protocolos de segurança, da vacinação em massa da população e da queda dos indicadores de Covid-19 que criaram condições sanitárias mais favoráveis ao procedimento. Durante o ano de 2020, somente 9 transplantes renais foram efetuados, contra 15 realizados de janeiro até o dia 06 de dezembro deste ano. Em 2018, foram realizados 30 transplantes e 27 em 2019.

Autorizado pelo Ministério da Saúde a realizar transplantes de rim e córnea e captação de múltiplos órgãos na região Norte pelo Sistema Único de Saúde, há 22 anos o Hospital Ophir Loyola realiza transplantes renais com doadores vivos e falecidos. Existe um serviço pré-transplante com oferta de exames e com avaliação dos cirurgiões e dos nefrologistas; apenas os testes de compatibilidade são realizados no Hemopa.

A equipe responsável pelas cirurgias e tratamento clínico é composta por urologistas, cirurgiões vasculares, nefrologistas, assistente social, psicólogo, anestesiologista e enfermeiros, e fica de sobreaviso contínuo durante todo o ano à disposição do transplante. Esse procedimento cirúrgico de alta complexidade é indicado quando os rins - órgãos cujas funções são filtrar e limpar o sangue das impurezas e controlar o excesso de água no corpo - deixam de funcionar corretamente e trazem prejuízos ao organismo.

Entraves

Desde o caso inaugural em 1999 até o momento, o HOL realizou 699 transplantes renais. Em todo o Brasil, o número de doações de órgãos e tecidos despencou  durante a pandemia e, consequentemente, afetou os transplantes. Porém, conforme dados estatísticos do hospital, nos últimos três meses deste ano, (outubro, novembro e dezembro), os números voltaram a crescer na instituição. 

Mas a coordenadora da Clínica de Nefrologia do Ophir Loyola, Silvia Cruz, pondera que, em média, os pacientes esperam de três a cinco anos por um rim por falta de doação. “Existe a necessidade de aumentar a quantidade de doadores para poder beneficiar mais pacientes renais crônicos que passam por sessões de diálise com comprometimento da vida pessoal, profissional e familiar. Sem doação, não há transplante”.

A maior parte das cirurgias é realizada com doadores falecidos oriundos de hospitais de trauma e, principalmente, que sofreram acidentes e tiveram diagnóstico de morte encefálica. A doação só ocorre se autorizada pela família. A doação intervivos ocorre com parentes até quarto grau, tais como pais, avós, filhos e irmãos, tios e primos, sendo aceitos cônjuges desde que haja compatibilidade; fora desse padrão somente com autorização judicial para evitar o comércio ilegal de órgãos. A orientação é de que haja diálogo sobre o desejo de ser ou não doador a fim de facilitar a tomada de decisão.

Para Silvia Cruz, a negativa familiar é um dos principais motivos para que um órgão não seja doado no Brasil. “A disparidade geográfica é acentuada, em especial no Norte, com apenas 2 a 3 doações por milhão de população. Enquanto o Sudeste tem, em média, 22 doações por milhão de população, um fato que pode estar relacionado aos mais de 50 anos de realização de transplante renal no sul e sudeste a uma maior conscientização a respeito do ato de solidariedade”, destaca Silva Cruz.

Outro fator importante é o estabelecimento de critérios pela Associação Brasileira de Transplante de Órgãos e Tecidos (ABTO) como medida de prevenção à contaminação pelo novo coronavírus, os riscos e benefícios foram avaliados para cada paciente levando as equipes transplantadoras a adiarem os procedimentos. Assim como o Ministério da Saúde e a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), por meio de nota técnica, contraindicaram a captação de órgãos e tecidos em doador com covid-19 e confirmado com síndrome respiratória aguda grave (Sars). 

Uma série de medidas foram tomadas para tentar modificar um cenário de leitos clínicos, cirúrgicos e de Unidade de Terapia Intensiva lotados com pacientes de covid por todo o país. Segundo a nefrologista Silvia Cruz, em fase mais acentuada da pandemia, os leitos de enfermaria e de UTI do HOL foram remanejados para atender pacientes oncológicos e renais crônicos com o novo coronavírus, a prioridade era assistir esse público. 

“O risco de contaminação dos enfermos e dos profissionais de saúde era muito grande. Os renais crônicos foram mantidos em diálise até melhorar a situação.  Uma medida necessária porque o transplantado é imunossuprimido e existe um risco elevado de desenvolver a forma mais grave da infecção por Sars-Cov-2”, esclarece a nefrologista. 

Mudança de vida

Apesar de salvar muitas vidas, a hemodiálise é um tratamento paliativo que interfere na rotina diária dos pacientes. Eles necessitam ficar conectados a uma máquina por quatro horas seguidas durante três dias na semana e sofrem restrições dietéticas. Não podem ingerir quase nada de água e certos alimentos consumidos com naturalidade pela maioria das pessoas. Uma situação complicada, principalmente para as crianças e jovens, os quais deixam de estudar e trabalhar, respectivamente.

Mesmo não sendo a cura, o transplante renal é uma das alternativas mais efetivas de substituição da função renal. Esse procedimento cirúrgico associado ao tratamento clínico periódico, com consultas e exames regulares, estabiliza e garante mais qualidade de vida aos renais crônicos em fase avançada. “Após a alta são acompanhados no ambulatório com liberação de dieta e imunossupressores regularmente.  A possibilidade de praticar atividades físicas, exceto as radicais, e voltar às atividades laborais aumenta bastante”, destaca Silvia Cruz. 

Valéria de Jesus Soares é transplantadaA operadora de caixa Valéria de Jesus Soares, 29 anos, descobriu ser portadora de insuficiência renal crônica com uma série de complicações, os dois rins parados e coração aumentado, em período pandêmico. Ela reside no bairro do Guamá e conta que foi difícil passar por hemodiálise na situação em que o planeta se encontrava.  Nesse meio tempo, Valéria passou por exames e consultas com muita dificuldade, mas ficou ativa na fila no mês de setembro deste ano e passou pelo transplante no Ophir Loyola.

“Foi complicado ter de encarar a nova rotina de pegar carro de aplicativo para ir às sessões de hemodiálise correndo risco de contaminação.  Com apenas dois meses na fila, fui chamada para receber um rim e estou com seis dias de transplantada, hoje, 6 de dezembro. Depois de descobrir a doença, estar sempre num ambiente hospitalar me deixou muito ansiosa. Agora estou na expectativa de poder beber água gelada na quantidade que eu quero e sucos de qualquer sabor”, diz.

Todos os pacientes em diálise com condições clínicas estáveis podem ser submetidos a um transplante. As contraindicações são para aqueles que apresentam doenças infecciosas, cardíacas e hepáticas não controladas ou estejam desnutridos. Somente cerca de 40 a 50% dos pacientes em diálise estão em condições e podem receber o rim.

Quando ocorre doação vários exames são realizados para certificar que os órgãos doados estão em bom funcionamento e descartar a existência de alguma doença que pode ser transmitida ao receptor. São realizados exames laboratoriais, testes sorológicos (HIV, Hepatite e Covid-19) e de compatibilidade, entre outros. A Central Estadual de Transplante da Sespa coordena todo o processo de doação, captação e transplantes de órgãos e tecidos, conforme a legislação federal.  É quem libera a lista com os nomes dos potenciais receptores.  Recebe o rim quem for mais compatível com órgão a ser disponibilizado. 

Max Sousa agradece apoio da equipe do Ophir LoyoaEm 2019, Max Sousa, 34 anos, morador do município de Benevides, começou a vomitar durante toda a madrugada e a eliminar sangue pela urina, então desmaiou. Após ser encaminhado ao Pronto-Socorro, foi diagnosticado com o rim parado. Foram dois anos em diálise até passar pelo transplante no mês de novembro de 2021.  “Toda a diálise é difícil, sentia muita dor devido à fístula e precisar furar o braço durante a semana. Além das restrições de líquidos e da dosagem do sal, o pior foi mudar toda a rotina. Era uma pessoa ativa, mas deixei de praticar esportes e trabalhar para cuidar da saúde, isso foi mais doloroso”, relata.

Ao passar na seletiva após três tentativas, Max transbordou de alegria ao receber a notícia de que era finalmente compatível. “A gente fica sem esperanças, pensa em desistir. Mas finalmente deu certo, recebi o transplante e a equipe médica já estuda a possibilidade de alta. Espero ficar mais tempo com a minha família, já que eu ficava de seis até dez da manhã na máquina. Almejo ter uma vida nova e ativa como eu levava antes”, acredita.

O serviço de transplantes do Ophir loyola possui 18 leitos reservados aos pacientes que apresentam complicações infecciosas após o enxerto ou que ainda serão submetidos ao procedimento. E também oferta ambulatórios ligados ao Serviço de Hemodiálise com 21 máquinas para o acompanhamento prévio de usuários com doença renal crônica e ambulatórios que preparam e acompanham os pacientes de transplantes.