Agência Pará
pa.gov.br
Ferramenta de pesquisa
ÁREA DE GOVERNO
TAGS
REGIÕES
CONTEÚDO
PERÍODO
De
A
CONDIÇÃO FEMININA

'Dia da Mulher': uma data de lutas e reflexão sobre as múltiplas realidades de mulheres reais

Respeito aos direitos conquistados aos invés de flores e bombons

Por Guaciara Freitas (UEPA)
07/03/2025 13h52

No próximo dia 8 de março, é celebrado o Dia da Mulher, é mais do que simplesmente desejar um "Feliz Dia" pela ocasião, falas de reflexão podem ser mais adequadas. Afinal, apesar de avanços do ponto de vista legal e institucional, as lutas e "conquistas" femininas estão longe de estarem garantidas ou mesmo respeitadas, seja na rua, na família, nos locais de trabalho, nas representações midiáticas e diversas esferas da vida cotidiana. 

Para quem precisa de dados para confirmar o que os fatos revelam, o Senado Federal realiza desde 2005, a Pesquisa Nacional de Violência contra as Mulheres, "a mais longa série de pesquisas de opinião sobre o tema no Brasil", segundo afirma a apresentação que pode ser encontrada entre os vários documentos disponíveis na plataforma do Observatório da Mulher contra a Violência. O levantamento feito pelo DataSenado ouve mulheres brasileiras sobre a violência doméstica e familiar, apurando a percepção das mulheres sobre temas como machismo, respeito à mulher, grau de conhecimento sobre os instrumentos de proteção às mulheres, entre outros. Nos relatórios também há informações sobre a vivência das brasileiras de 16 anos ou mais em relação à violência doméstica. 

O Mapa Nacional da Violência de Gênero reúne as bases do Senado Federal, do Ministério da Justiça e Segurança Pública, do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Sistema Único de Saúde (SUS), o que possibilita utilizar dados do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), que coleta e armazena declarações de óbito de cartórios de Registro Civil de todo o país; e do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan), alimentado por registros de saúde compulsoriamente informados ao SUS e permite a disponibilização de informações sobre mortes violentas e registros no SUS.

Mulheres em realidades múltiplas e diversas

A criação dessa data alusiva ao Dia da Mulher está relacionada à realidade de mulheres em um contexto do mundo capitalista ocidental, inicialmente mais ligada a questões de trabalho de um mundo industrial, mas, quando falamos de mulheres, sobretudo na Amazônia, também temos as mulheres indígenas, por exemplo, que fazem parte de outro tipo de sociedade e cultura. Podemos estender essas reivindicações atreladas ao Dia da Mulher para essa realidade dos povos indígenas, sem isso representar uma violação cultural?

A professora e pesquisadora da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Ana Lídia Nauar Pantoja, graduada em História e doutora em Ciências Sociais, coordenadora do Grupo de Pesquisa Gêneros, Sexualidades, Educações e Gerações (GENSEG/UEPA/CNPq)   afirma que "a data não contempla as inúmeras realidades e complexidades femininas pelo mundo e nem mesmo de todas as mulheres do Ocidente".

"A data não tem o menor sentido para as mulheres indígenas, uma vez que, culturalmente, estão situadas em outros contextos distantes do mundo capitalista e do trabalho nas fábricas. As lutas das mulheres indígenas estão relacionadas às suas realidades e demandas específicas, ligadas à defesa de seus direitos coletivos, humanos, da natureza, em defesa da mãe terra, portanto, é uma luta pelos seus direitos ancestrais. Estender as reivindicações das mulheres não indígenas que marcam as ditas comemorações nas sociedades capitalistas, às realidades de mulheres indígenas na Amazônia ou em outros contextos, é sim uma violação cultural muito grande. As mulheres, mesmo as não indígenas, são múltiplas e diversas, vivem em contextos socioculturais diversos, e, portanto, com agendas próprias e por isso muitas não vêm sentido nessa data. Aliás, nessa data, passadas décadas de muita luta e poucas conquistas, o dia tem sido marcado por lutas das mulheres pelos seus direitos que são violadas diariamente", refprça.

Ana Lídia Nauar aproveita para pontuar que existem outras datas, que remetem especificamente às mulheres negras e indígenas, como o 25 de julho, "Dia da Mulher Negra" e o "Dia da Mulher Indígena", em 5 de setembro, que assim como o "Dia Internacional da Mulher", instituído pela ONU relacionado à greve das operárias russas ocorrida em 1917, também foram marcados por acontecimentos específicos para tais grupos. 

O diálogo com uma mulher estudiosa da questão de gênero ajuda a compreender que datas como o 8 de março assumem importância e significados que vão muito além do apelo e conotação comercial que ganhou na sociedade capitalista, quando, mesmo bem intencionadas, as pessoas, principalmente homens, presenteiam objetos considerados "femininos", como flores, bombons e produtos de maquiagem. 

"Nesse dia, é preciso lembrar que nem tudo são flores, pois os mesmos homens que nesse dia dão flores para as mulheres, nos outros dias do ano as desrespeitam e as violentam de todas as formas. Portanto, o 8 de março é um dia para lembrarmos da luta feminista e mobilizarmos os grupos e coletivos que defendem os direitos das mulheres e lutam por conquistas ainda muito distantes da nossa realidade. É verdade que ao longo dessas décadas muitas conquistas já aconteceram, graças à mobilização das mulheres por meio dos movimentos feministas no enfrentamento das dificuldades e injustiças sofridas. Muitas mudanças já ocorreram, mas não houve ainda uma modificação radical. Ainda há muito a ser conquistado para alcançarmos a tão sonhada equidade de gênero na nossa sociedade. Ainda não alcançamos nem a metade do que gostaríamos", pondera Ana Lídia, ao nos colocar em uma condição mais atenta sobre qual postura devemos assumir nesta data.