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ESTRATÉGIA ZERO

Treinamento enfatiza prevenção de morte materna por hemorragia

Por Roberta Vilanova (SESPA)
13/09/2019 18h10

O treinamento é necessário para o salvamento de inúmeras vidasA prevenção de morte materna por hemorragia durante o parto começa no pré-natal, com a identificação dos principais fatores de risco apresentados pela gestante. O alerta é da médica obstetra Laíses Braga, instrutora da Organização Pan-Americana (Opas) para a Estratégia Zero Morte Materna por Hemorragia (0MMxH) e coordenadora do Serviço de Obstetrícia da Fundação Hospital de Clínicas Gaspar Vianna.

Ela foi uma das ministrantes do treinamento Zero Morte Materna por Hemorragia – Prevenção e Manejo Obstétrico de Hemorragia, realizado pela Secretaria de Estado de Saúde Pública (Sespa), por meio da Diretoria de Políticas de Atenção Integral à Saúde (Dpais), no dia 12 de setembro, no auditório da Escola de Governo. Esse foi o segundo treinamento de 2019. O primeiro ocorreu em abril.

A coordenadora estadual de Saúde da Mulher, Itamara Santana da SilvaSegundo a coordenadora estadual de Saúde da Mulher, Itamara Santana da Silva, o objetivo do evento foi treinar cerca de 80 médicos e enfermeiros para essa estratégia, que importante para a redução da mortalidade materna no Pará. “Participaram representantes dos Centros Regionais de Saúde e profissionais de todos os municípios paraenses”, informou Itamara Santana.

Segundo Laíses Braga, no pré-natal já é possível corrigir a anemia e identificar precocemente se a paciente tem história de hemorragia (coagulopatia). “Podemos perguntar, por exemplo, quando você extrai o dente, sangra muito? Quando você se corta demora a parar de sangrar?”, disse a obstetra.

Também é importante saber se a gestante tem ou já teve hemorragia nos partos anteriores, se tem pressão alta na gravidez, se há história de hemorragias na família, o que pode indicar fatores hereditários  para o problema.

Fatores de risco – Laíses Braga explicou que a hipertensão arterial e cesáreas anteriores também são fatores de risco para hemorragia. “A cesárea é um fator predisponente para a placenta acreta, que é aquela que gruda no útero e não consegue sair depois do parto, e também para placenta prévia, que em vez de ficar localizada no fundo do útero ou na parte anterior ou posterior, fica bem em cima da cicatriz uterina, fazendo com que a placenta cresça para cima do colo uterino. Placenta prévia fica entre a cabecinha do bebê e o colo. Então, a criança não pode sair ou, ao se iniciar o trabalho de parto, a placenta começa a se descolar com a abertura do colo levando a um sangramento”, detalhou a especialista. “Tem que saber se a paciente tem cicatriz cirúrgica anterior, seja de cesárea, retirada de mioma ou outro tipo de cirurgia, porque isso vai predispor à hemorragia, tanto pelo acretismo quanto pela placenta prévia”, alertou a médica.

A médica Laíses Braga garante que é possível corrigir a anemia e identificar precocementeConforme Laíses Braga, ao detectar esses fatores de risco na paciente, o profissional já deve direcioná-la para um hospital que atenda à gravidez de alto risco. “Não adianta mandar para maternidade de pequeno porte porque ela poderá evoluir com hemorragia e terá que ser transferida para uma maternidade de maior complexidade hospital. Se eu desconfio ou identifico numa ultrassonografia que a grávida tem placenta prévia ou acreta eu já tenho que programar a cesárea dessa mulher. Deve ser evitado que inicie o trabalho de parto porque é uma mulher que tem indicação absoluta para cesárea devido ao alto risco de hemorragia”, enfatizou a especialista.

Parto e pós-parto - Sobre a hora do parto, ela disse que assim que chegar à maternidade, a equipe médica precisa fazer as mesmas avaliações feitas durante o pré-natal e já solicitar hemograma para todas as mulheres na chegada à maternidade, pois a anemia é fator de risco para a hemorragia pós-parto.

Durante o trabalho de parto, é importante observar com cuidado com partograma, avaliando as contrações uterinas, porque a ruptura do útero pode levar à hemorragia e à morte da mãe e do bebê. É preciso observar a pressão arterial, para evitar pico hipertensivo, que pode ocorrer mesmo que ela nunca tenha tido episódio semelhante antes, mas que é possível ocorrer na hora do parto. É a chamada hipertensão transitória.

Depois do parto, é importante o uso da Ocitocina como profilaxia para hemorragia, que deve ser feita imediatamente após o nascimento do bebê, antes de tirar a placenta.

Um alerta importante feito pela médica é que o profissional não deve puxar a placenta. “Deixa que ela vai sair sozinha, porque na hora que você puxa, pode arrancar e deixar um pedaço lá dentro, pode trazer o útero junto, o que também causa hemorragia. Tudo no parto tem que ser o mais fisiológico e tranquilo possível, sem forçar a natureza. Hoje em dia, com as atuais técnicas que levam em consideração a fisiologia da mulher e o seu estado físico e emocional, há uma grande probabilidade de não haver complicações e de as coisas acontecerem naturalmente”, orientou a instrutora da Opas.

Sobre o treinamento, Laíses Braga disse que estava capacitando os profissionais para o enfrentamento de dificuldades no primeiro momento. “Seja um enfermeiro, seja um médico, ou parteira até, se perceber qualquer alteração de sangramento depois que sai a placenta já deve começar a fazer o protocolo, o passo a passo. Se o fluxo for seguido em todas as mulheres não haverá complicação, porque quando se faz a medicação dá tempo de chegar a outra unidade de média e alta complexidade, evitar o choque hemorrágico e o óbito”, afirmou a obstetra.

Nova tecnologia - Os participantes também tiveram a oportunidade de conhecer e aprender a utilizar o Participantes do segundo treinamento, no auditório da Escola de Governotraje antichoque não pneumático (TAN), uma nova tecnologia de tratamento da hemorragia obstétrica que vem sendo introduzida no Brasil pelo Ministério da Saúde, em cooperação com a Opas/OMS. O TAN permite um controle transitório do sangramento, ampliando a sobrevida das mulheres enquanto aguarda um procedimento ou a transferência a uma unidade de referência.

Laíses Braga disse que o TAN é uma tecnologia de baixo impacto e baixo custo, que controla a hemorragia até a paciente chegar a uma unidade de alta complexidade, onde o caso pode ser resolvido. “Ele funciona como se fosse uma contenção da hemorragia, evitando que piore o estado geral da mulher até chegar a um hospital de alta complexidade, para cirurgia ou outro procedimento que salve essa vida. Depois que eu consigo controlar, fazer o diagnóstico e tratar, aí eu posso tirar o TAN”, explicou a médica.