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FEIRA PAN-AMAZÔNICA DO LIVRO

Vozes da periferia de Belém ecoam no palco das múltiplas artes

Por Aline Saavedra (SECOM)
01/09/2019 16h05

A voz, linguagem e energia da periferia de Belém foram o destaque da programação Papo-Cabeça, com o tema "Protagonismo Periférico", na Arena Multivozes, neste domingo (1º), último dia da 23ª Feira Pan-Amazônica do Livro e das Multivozes, no Hangar - Centro de Convenções e Feiras da Amazônia. O encontro, que reuniu uma eclética plateia, começou com a explanação da professora Lilia Melo, que atua há 11 anos na Escola Estadual de Ensino Infantil, Fundamental e Médio Brigadeiro Fontenelle, no bairro da Terra Firme.

Lilia Melo criou o Projeto “Terra Firme: Juventude periférica – do extermínio ao protagonismo!”, que incentiva a produção de conteúdo audiovisual pelos próprios alunos da rede pública, a partir da observação do cotidiano. No final do ano passado, o projeto foi agraciado com a premiação de Melhor Professora do país na categoria Ensino Médio. "É preciso ouvir os nossos alunos. Não podemos entrar na sala de aula, falar 50 minutos de conteúdo, ao final perguntar se o aluno entendeu e ir embora. É preciso ouvir", ressaltou a educadora.

O encontro teve ainda poemas, dança, teatro e relatos. "Foi muito emocionante. Nós somos pessoas jovens, da periferia, que estamos construindo um novo mundo. Nós temos arte, talento e viemos aqui para dar o nosso recado", disse Natasha Angel Borges, 17 anos, roteirista do CineClube Terra Firme.

Visibilidade - Para a professora, espaços como o que foi dado na Feira Pan-Amazônica do Livro, um dos maiores eventos literários do país, são essenciais para garantir visibilidade ao que é produzido por uma parcela da sociedade, muitas vezes esquecida e discriminada. "Durante muito tempo espaços como esse foram ocupados por pessoas acadêmicas. Porém, quando a gente fala em conhecimento, a gente precisa pensar que é feito por várias vertentes, e uma delas é a periferia. É aquela da oralidade, que passa de mãe pra filho. É preciso ouvir essas vozes que são excluídas, que são da periferia e vêm falar o que acontece lá. E o que acontece lá não é diferente do que acontece no centro. A juventude aqui se apropriando do que é dela, que é a arte, que é a dança, o teatro. Um lugar como esse, que é uma vitrine, onde a gente pode dizer que a periferia existe, que ela não é só drogas, não é feita só por marginal, mas é feita por trabalhadores, jovens que conseguem se superar com sua arte e sua história, com seus sonhos, é essencial para o processo de transformação", ressaltou Lilia Melo.

O projeto, que antes atendia apenas alunos da escola, foi agregando mais pessoas para a promoção da realidade periférica e da cultura de paz. Criado há um ano, o projeto desenvolve ações culturais por meio do Cine Clube TF e dos grupos Arte dance e Os favelados, todos com integrantes de diversos bairros da capital, como Guamá, Benguí e Cabanagem.

"Eu encantada com todos os trabalhos que estou vendo aqui. Esses talentos são vozes que ecoam do processo de resistência que surge da periferia. Eu fico muito feliz de a Feira abrir espaços para que essa multidão que vem até aqui possa perceber o quanto essa chamada periferia, que é tão subalternizada, está trazendo à tona sua identidade, sua voz e sua força, de diferentes formas, como cinema, dança e poesia. São corpos e mentes falando do quanto elas estão ali, resistentes e persistentes, acreditando no que elas são", ressaltou Elaine Lopes, professora do anexo Benvinda de França Messias.